O seu browser não suporta Javascript!
Você está em: Página Inicial > Comunicação > Arquivo de Notícias > Popularização da internet provoca mudanças na relação médico-paciente
Publicado em: 11/12/2009
ATENÇÃO: Você está acessando o site antigo da FAPERJ, as informações contidas aqui podem estar desatualizadas. Acesse o novo site em www.faperj.br

Popularização da internet provoca mudanças na relação médico-paciente

Vinicius Zepeda

Fotos de Vinicius Zepeda 

       
     Cristina Guilam e André Pereira Neto coordenam o  projeto que
      será desenvolvido no Laboratório Internet, Saúde e Sociedade
 
Segundo informações do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação (Cetic) – órgão responsável pela produção de dados sobre o uso da internet no Brasil –, um terço dos 79 milhões de brasileiros que acessaram a rede mundial de computadores em 2008, usaram-na para pesquisar informações relacionadas à área de saúde. O fato, decorrente da cada vez maior popularização de computadores nas mais variadas classes sociais da população brasileira, promete provocar profundas transformações na relação médico-paciente com o surgimento do chamado "paciente-expert": aquele que busca informações sobre saúde na internet e acha que sabe tudo sobre sua doença antes mesmo de chegar ao consultório médico. O fato tem chamado a atenção de profissionais da área de saúde pois, o excesso de informação disponível na rede mundial de computadores nem sempre é confiável. Um estudo recente pesquisou 173 sites brasileiros sobre rinite alérgica e reprovou 84% deles. Estas informações erradas podem induzir pacientes a buscar tratamentos errados ou mesmo recorrer à automedicação, que em casos extremos podem acarretar sérios problemas e até mesmo levar à morte.

Para debater os aspectos positivos e negativos que esta nova relação médico-paciente poderá gerar e criar um mecanismo de medição do grau de confiabilidade dos sites relacionados à área médica, a Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), inaugurou na terça-feira, 8 de dezembro, o Laboratório Internet, Saúde e Sociedade (Laiss) – uma sala com datashow para aulas e apresentações, além de dez computadores conectados à rede. O Laiss é parte do projeto 'O impacto da Internet na Saúde: a percepção da população de baixa renda do estado do Rio de Janeiro', coordenado pelos pesquisadores da Ensp Luis David Castiel, André Pereira Neto e Cristina Guilam. O projeto conta com o apoio do edital 'Pensa Rio - Apoio ao Estudo de Temas Relevantes e Estratégicos para o Estado do Rio de Janeiro’, da FAPERJ. "As comunidades virtuais, onde pacientes trocam informações sobre determinadas doenças, têm um papel cada vez mais importante no chamado ‘empoderamento’ que o paciente vem ganhando em relação à saúde. Assim como antigamente se trocava informações nas salas de espera, hoje elas são trocadas na rede", exemplificou Pereira Neto

A pesquisa desenvolvida no Laiss funcionará por meio de duas parcerias. A primeira será com o Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria, unidade de saúde ligada a Ensp e responsável pelo atendimento prioritário da população residente do complexo de Manguinhos, situado no entorno da Fiocruz. André Pereira Neto explica que tanto no Brasil como no mundo já existem mecanismos para medir a qualidade de conteúdo e a confiabilidade das informações disponíveis na internet. "Nossa proposta é que no futuro tenhamos uma espécie de selo disponibilizado na página da Fiocruz para avaliara a qualidade dos sites da área médica", explicou Pereira Neto. Porém, a pesquisa desenvolvida no Laiss não se restringirá apenas a estes dois temas. Ela se dividirá ainda na avaliação da navegabilidade e qualidade do conteúdo dos sites – que serão feitas respectivamente por webdesigners e especialistas da própria Ensp – e legibilidade das informações disponíveis nas páginas eletrônicas relacionadas à saúde. "Este último ponto é o grande ineditismo do nosso trabalho. No Laiss receberemos moradores de comunidades de baixa renda do entorno da Fiocruz. Esta população, os principais usuários do Centro de Saúde da Ensp, será orientada a pesquisar sobre temas da área médica. Com isso, eles mesmos avaliarão a legibilidade destes sites", complementou.

Monitores do novo laboratório da Ensp virão da comunidade de Manguinhos

      
   No novo espaço, pacientes do Centro de Saúde irão acessar
    a internet e avaliar a legibilidade dos sites sobre saúde 
A segunda parceria será com o Comitê de Democratização da Informática (CDI, organização não-governamental que utiliza a inclusão digital como forma de prover e desenvolver o bem-estar social de comunidades pobres), que formará dois monitores entre os moradores do Complexo de Manguinhos. Esta é a primeira vez que o CDI implanta o seu modelo de popularização do uso da internet, as chamadas Escolas de Informática e Cidadania (EIC) numa instituição pública. "A ideia é que todos sejam responsáveis pela gestão do laboratório: os pacientes moradores do complexo de Manguinhos, os pesquisadores da Ensp e os profissionais do Centro de Saúde. Por meio da instalação desta EIC iremos criar uma proposta pedagógica de inclusão digital voltada para a construção da cidadania", afirmou Luis David Castiel. Presente na inauguração do novo espaço, o coordenador regional do CDI no Rio, José Emilson Canaes, complementou as palavras de Castiel. "Vale lembrar que nossa instituição usa a tecnologia como forma de promover o acesso ao conhecimento. Com esta inédita parceria, mergulharemos na realidade de Manguinhos, para identificar problemas e buscar solução para melhorar as condições de vida de seus moradores", acrescentou Canaes.

Já a médica sanitarista Cristina Guilam lembrou que, com o uso da internet, aqueles médicos que possuem uma relação de confiança frágil com seus pacientes tendem a correr o risco de vê-la se tornar mais frágil ainda. "Entretanto, na prática, a sociedade ainda respeita muito a opinião médica. Ainda assim, precisamos fortalecer as informações sobre saúde disponíveis na rede, dando-lhes maior credibilidade. Assim, o médico saberá onde seu paciente está buscando conhecimento e poderá debater os assuntos sobre os quais seja questionado", explicou Cristina.

Doutoranda em Saúde Pública na Ensp, a médica Helena Garbini vem estudando as transformações que o acesso à internet poderá gerar na profissão do médico. Ela destaca que, culturalmente, a mulher tem uma tendência a ser mais cuidadora e, portanto, tende a buscar mais informações na rede. Apesar do conflito que o ‘empoderamento’ do paciente pode provocar na relação com o médico, ela acredita que a médio e longo prazos os resultados deverão ser positivos. "O que na primeira vez pode ser um desafio ao médico, que deverá se manter mais atualizado, poderá ser um reforço na adesão de pacientes aos tratamentos", exemplificou. Para Helena, o boom da internet nas populações mais pobres irá exigir que a formação do médico sofra grandes mudanças. "Como um médico que trabalha num hospital público e que muitas vezes recebe recomendações para que atenda seus pacientes em 15 minutos para dar vazão a fila nestes locais, irá debater sobre internet com seu cliente? Com certeza, este é o grande desafio e exigirá uma formação mais humanista deste profissional. É essencial que ele seja orientado a conversar mais com seus pacientes", completou.

Representando o diretor da Ensp, Antônio Ivo Carvalho, a vice-diretora de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Escola, Margareth Portela, esteve presente no evento e se mostrou bastante empolgada com o projeto. Ela complementou as informações da doutoranda Helena Garbin. "O potencial e o desafio desse estudo são enormes. É muito importante que possamos informar e dividir informações com o paciente, além de qualificar e valorizar suas escolhas. Neste sentido, ele poderá cuidar e ser cuidado", concluiu Margareth. 

Compartilhar: Compartilhar no FaceBook Tweetar Email
  FAPERJ - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
Av. Erasmo Braga 118 - 6º andar - Centro - Rio de Janeiro - RJ - Cep: 20.020-000 - Tel: (21) 2333-2000 - Fax: (21) 2332-6611

Página Inicial | Mapa do site | Central de Atendimento | Créditos | Dúvidas frequentes