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Publicado em: 03/12/2009
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Livro avalia as reações da sociedade portuguesa às invasões napoleônicas


Débora Motta

 

                                                             Reprodução
   
  Napoleão Bonaparte, retratado como herói em
 pintura neoclássica do francês Jacques-Louis David
 
Herói ou monstro? A enigmática figura do imperador Napoleão Bonaparte foi retratada sob os ímpetos da paixão e do ódio em Portugal. Foi no final de 1807 que a Corte de Dom João transferiu-se para o Brasil, para escapar dos franceses, que sob o comando do general Junot invadiram a antiga metrópole. Portugal permanecia dividido entre as glórias do passado, quando capitaneou a expansão ultramarinha, e as incertezas de um presente que anunciava o perigo da perda de suas colônias e da sua condição de reino independente.

 

A partir da crise que se abateu no reino português naquele momento, o livro Napoleão Bonaparte - Imaginário e política em Portugal c. 1808 – 1810 (Ed. Alameda, 2008, 355 p.), da professora titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves, avalia as diversas representações sociais do líder maior da França na época: Napoleão. “A maioria da sociedade portuguesa apresentava um discurso contra Napoleão, que era chamado de corso, diabo, constituindo a lenda negra, mas descobri também documentos de pessoas favoráveis a Napoleão em Portugal”, explica a autora. O livro foi um dos resultados de projeto apoiado no programa Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ.

 

Essa divergência de representações de Bonaparte variava de acordo com os interesses de cada classe social. “Entre os grupos favoráveis a Napoleão estava a alta nobreza, incluindo ainda o alto clero. Seus membros não acompanharam a Corte em sua transferência ao Brasil e, como desde a época de Marquês de Pombal estavam alijados do poder, pensou que poderia conseguir benefícios apoiando as tropas francesas”, diz Lúcia. 

 

Além disso, os magistrados e boa parte das pessoas letradas acreditavam que o domínio francês poderia significar uma renovação política em Portugal, inclusive a possibilidade de elaboração de uma Carta Constitucional. “Isso porque Portugal ainda estava preso às tradições aristocráticas do Antigo Regime. As ideias de Napoleão, especialmente o seu Código Civil, traziam as novidades do mundo liberal do século XIX”, completa.

 

Por outro lado, a oposição a Bonaparte era comum entre as camadas populares, que se sentiam abandonadas, à mercê dos franceses. “As camadas mais baixas da população, representadas pelos camponeses e pelo baixo clero, foram responsáveis por uma série de levantes no interior de Portugal contra as tropas francesas, em 1808”, assinala a historiadora, acrescentando que, para boa parte desse segmento social, a honra do país estava relacionada ao retorno da família real.

 

Repercussão da invasão napoleônica no Brasil

 

 Reprodução 
      
Livro reflete sobre as reações sociais às
invasões napoleônicas no reino português
  
Já no Brasil, a opinião pública parecia ser mais homogênea. Publicações da época revelam uma espécie de horror a tudo que era francês, devido ao período político conturbado da Revolução Francesa. “Na Gazeta do Rio de Janeiro, quando franceses anunciavam aulas particulares de música ou do idioma francês, faziam questão de escrever que não eram favoráveis aos ‘tumultos’ que ocorriam na Europa”, conta a professora.

 

Lúcia destaca ainda que a entrada de franceses no Brasil foi dificultada até a derrota de Napoleão. “Depois de 1815, ano da Restauração monárquica na França, em que ocorreu a volta de Luís XVIII, o número desses anúncios cresceu. Porém, o fato de ser francês aparece como um status, como se eles representassem a civilização europeia”, completa.

 

O momento histórico entre a invasão de Napoleão em Portugal e a independência do Brasil foi caracterizado pela luta do novo contra o antigo, ou seja, do liberalismo contra o Antigo Regime. Motivada pela invasão napoleônica em Portugal, a transferência da Corte de Dom João acabou acelerando a independência do Brasil. “Napoleão representava os interesses liberais da burguesia em ascensão. Aos poucos, a condição da América Portuguesa de ser uma colônia passou a se constituir como coisa do passado, além dos processos de independência na América hispânica começarem a eclodir, contribuindo para as idéias de separatismo”, explica.

 

 

O sentimento de abandono que pairou em Portugal após a transferência da Corte para o Brasil foi um dos fatores que levaria à ocorrência da Revolução Liberal do Porto, em 1820, que reivindicou a substituição do absolutismo por uma monarquia constitucional. “Diante do progressivo aumento das pressões nacionais em Portugal para que este voltasse a ocupar novamente o lugar de primazia no interior do império, Dom João retornou à antiga metrópole enquanto Dom Pedro de Alcântara permaneceu no Brasil, na condição de Príncipe Regente, e proclamou sua independência, sendo aclamado imperador do Brasil em 12 de outubro de 1822”, conclui.

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