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Publicado em: 19/11/2009
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Veneno de jararaca pode ser arma contra a doença de Chagas


Débora Motta

 

                                                                         Divulgação 

     
    Barbeiro: inseto transmissor do parasita Trypanosoma cruzi
    é comum em regiões rurais, com más condições de habitação 
Em abril de 1909, o jovem cientista Carlos Chagas (1878-1934), então pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz, comunicou ao mundo científico a descoberta de uma nova doença, que levaria seu nome. Causada pelo protozoário que denominou de Trypanosoma cruzi, em homenagem ao mestre Oswaldo Cruz, e pelo inseto que a transmite (conhecido como “barbeiro”), a doença de Chagas – encontrada apenas no continente americano – atinge hoje cerca de 16 a 18 milhões de pessoas em 21 países.

 

No entanto, uma equipe de pesquisadores da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) apontou o que pode vir a ser uma arma no combate a essa doença, associada às más condições de moradia. Orientada pelos professores Elias Walter Alves e Renato Augusto DaMatta, a bióloga Poliana Deolindo identificou, em sua dissertação de mestrado em Biociências e Biotecnologia defendida na instituição, uma enzima presente no veneno da serpente Bothrops jararaca que pode matar o parasita Trypanosoma cruzi, além de inibir o seu crescimento.

 

Experimentos realizados em laboratório demonstraram que a enzima L-aminoácido oxidase, ao reagir com aminoácidos livres, apresenta como produto de reação o peróxido de hidrogênio (H2O2), substância que induz a morte celular programada em Trypanosoma cruzi. “Temos dados conclusivos de que a morte do parasita foi causada por um processo no qual a célula programa a sua própria morte”, explica o biofísico Elias Walter Alves.

 

“Observamos características clássicas de morte celular programada nos parasitas após a aplicação do veneno bruto”, completa Poliana, que trabalhou com o parasita nas formas epismatigotas – encontradas no intestino do barbeiro, visto que o Trypanosoma cruzi assume diferentes formas ao longo do seu ciclo de vida. “Houve aumento do volume da mitocôndria, organela responsável pela respiração celular, condensação da cromatina nuclear e do citoplasma e exposição de fosfatidilserina (fosfolipídio encontrado nas membranas celulares) na superfície das células”, detalha.

 

Para comprovar a atividade da L-aminoácido oxidase na morte dos parasitas, foram realizados ensaios na presença de catalase, enzima que decompõe o peróxido de hidrogênio. “Na presença da catalase, não havia mais a morte do parasita, o que fortaleceu o indício de que o peróxido de hidrogênio, produto da reação da L-aminoácido oxidase presente no veneno, tem efeitos letais ao parasita”, explica Poliana.

 

Divulgação 
  

Gráfico mostra a inibição do crescimento do parasita na presença das   
frações do veneno que apresentam atividade de L-aminoácido oxidase
(F150 e F200) e a reversão deste efeito na presença de catalase   

 

Os resultados da pesquisa mostrando o efeito do veneno bruto na indução da morte celular programada do T. cruzi foram publicados na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. Recentemente, um artigo identificando a L-aminoácido oxidase como a responsável pela morte dos parasitas foi submetido à Toxicon, renomada revista na área de toxinas. “Buscamos saber se essa enzima é a única responsável por esse fenômeno ou se podem haver outros fatores envolvidos, visto que a efetividade do veneno não é igual para todos os parasitas”, questiona Elias, destacando que a leishmania também é afetada pelo veneno – fato observado em outros experimentos do grupo.

 

O estudo teve apoio da FAPERJ, além do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (Pronex) e da Fundação Estadual do Norte Fluminense (Fenorte). O caminho das bancadas do laboratório até a elaboração de um tratamento efetivo ao Mal de Chagas, no entanto, ainda é longo.

 

“O peróxido de hidrogênio é um composto bastante tóxico, inclusive para as células humanas. Experimentos verificando se há uma diferença de sensibilidade a este composto entre as células de mamíferos e do parasita devem ser realizados”, diz Poliana, que atualmente trabalha na Fiocruz, após concluir o doutorado na instituição. “A ideia é produzir um fármaco para controle da doença em humanos, mas até lá ainda temos bastante trabalho pela frente”, completa Elias. 

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