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Publicado em: 05/11/2009
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Livro desvenda a malandragem como traço marcante da cultura nacional


Débora Motta

 
      
   Lapa: tradicional reduto da boemia remete à figura do
   antigo malandro carioca, presente no imaginário popular

Os versos do samba Malandro é malandro e mané é mané, de autoria de Neguinho da Beija-Flor e popularizado pelas vozes de Bezerra da Silva e Diogo Nogueira, sintetizam bem o universo do típico malandro carioca: "Malandro é o cara que sabe das coisas/ malandro é aquele que sabe o que quer/ malandro é o cara que tá com dinheiro/ e não se compara com um Zé Mané." Cantado em prosa e verso por vários artistas da música e da literatura, o malandro foi tema da tese defendida por Giovanna Dealtry, doutora em Estudos de Literatura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

O estudo rendeu a publicação do livro No fio da navalha – malandragem na literatura e no samba (ed. Casa da Palavra, 2009, 207 p.), publicado com apoio da FAPERJ. Para Giovanna, definir com precisão o termo malandro é difícil porque ele carrega uma forte ambiguidade. Depende mais do contexto e da entonação em que se diz do que de um significado fixo. "Chamar alguém de malandro pode ser tanto um elogio, para alguém que aproveitou uma boa oportunidade, quanto um xingamento, para um sujeito trapaceiro", observa a professora do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio. Ela acrescenta que o malandro é um estrategista, capaz de valer-se do anonimato, do discurso inesperado e da antecipação ao outro para garantir o ganho pessoal.

O livro traz reflexões sobre a figura do malandro e suas representações na literatura e na música popular, além de propor um olhar sobre a disseminação de estratégias da "malandragem" na cultura brasileira. Giovanna explica que o malandro não se restringe à clássica figura vestida de terno de linho branco, camisa listrada, chapéu panamá e sapato com biqueira. "O livro busca romper com a ideia estereotipada de que todo malandro é preto, pobre e sambista. Existem malandros em todos os níveis sociais. Ser ‘filhinho de papai’, por exemplo, é uma forma de 'malandragem'. O malandro tem aversão ao trabalho e valoriza a própria imagem", diz.

Na obra, Giovanna tenta explorar vários caminhos: os seres malandros presentes na religiosidade afro-brasileira, como Exu e o Zé Pilintra, da umbanda; a "malandragem" no samba antes de seu apogeu, nos anos 1930; as relações entre o escritor marginal e o ocaso do Rio Malandro, tematizado em Desabrigo, de Antônio Fraga; João do Rio e as investigações sobre "a gente de cima e a canalha", ambas inescrupulosas; e finalmente, a "malandragem" branca e romântica de Manuel Antônio de Almeida e Martins Pena.

Jeitinho malandro de ser

Ao lado do famoso "jeitinho brasileiro" de resolver qualquer situação do cotidiano recorrendo à lábia e à pessoalidade, a "malandragem" representa uma característica marcante das relações sociais no país. Mas como e por quais motivos o discurso do malandro permanece como um traço distintivo da cultura nacional? "A própria sociedade que condena o malandro oferece brechas para que ele possa agir. O Estado está repleto de representantes de uma suposta ordem que recorrem ao poder para atingir finalidades pessoais", destaca Giovanna.

 
        
   Livro destaca o malandro e a 
 malandragem na cultura brasileira 
Nesse sentido, a "malandragem" tem aspectos positivos e negativos. "Existe um limite tênue e flexível que as separa. É positivo o jeito informal e simpático do brasileiro contornar as situações. Por outro lado, a malandragem negativa dá espaço para atitudes corruptas, como o nepotismo", pondera.

Uma das situações mais emblemáticas da "malandragem" é o chamado "conto do vigário", em que o ingênuo pensa estar enganando o esperto. Ou seja, o mané (ou otário) pensa que pode enganar o malandro. "Esta dicotomia aparece em muitas músicas de Noel Rosa e Wilson Batista. O otário é aquele que cai no golpe do malandro, seja por ganância ou ingenuidade. Os papéis de vítima e do agressor não são muito claros nesse caso", explica.

Durante a ditadura getulista do Estado Novo (1937-1945), os malandros – entre eles vários sambistas – eram perseguidos pela polícia. Mas a relação do malandro com o poder oficial varia de acordo com o momento histórico. "Hoje, a figura do malandro sambista dos anos 1930 é romantizada. Há uma glamourização do Rio antigo e da Lapa, como reduto da malandragem. Isso ocorre porque vivemos uma violência mais pesada, a do narcotráfico. O traficante não é malandro, pois segue uma lógica empresarial, ligada ao capital e com hierarquias a serem respeitadas. O malandro é anti-hierárquico e age de acordo com sua vontade própria", conclui.

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