Vilma Homero
Divulgação/Museu Nacional |
Com parte do corpo pintado num painel e parte em 3D, o Pycnonemosaurus nevesi abre a mostra Dinos in Rio |
Dinos in Rio, na verdade, reúne três eventos num só. Além da exposição, haverá uma mostra virtual e o II Congresso Internacional de Arte Paleontológica, que traz o tema da paeloarte a debate, com palestras sobre a história, as técnicas, as dificuldades de se reconstituir animais extintos e a utilização da biomecânica, que permite que os animais reproduzidos ganhem vida. E como dinossauros sempre foram um grande apelo nas telas – Spielberg está aí mesmo que não nos deixa mentir –, uma das palestras abordará exatamente essa relação da paleoarte com o cinema.
"A paleoarte é o elo de ligação entre a ciência e o público. Ao interpretar e transformar em arte o que está na cabeça do paleontólogo, ela permite ao leigo visualizar e entender o resultado de uma pesquisa, aquilo que a ciência já descobriu. Tanto que, na profissão, tanto há artistas plásticos, como é o meu caso, que trabalham junto com paleontólogos quanto paleontólogos que procuram se aprofundar no trabalho artístico", explica Maurílio Oliveira, do Museu Nacional, um dos 26 paleoartistas, com trabalhos na exposição e um dos organizadores do evento. Como ele faz questão de enfatizar, nesse tipo de arte, a relação com ciência é estreita. Tanto que os trabalhos estão sempre atrelados a projetos de pesquisa e cada detalhe da reconstituição de um determinado animal obedece ao que, com base nos achados, os pesquisadores já puderam descobrir sobre suas características.
Na exposição, o visitante terá muito o que ver. "Fazem parte do congresso, brasileiros, argentinos e um português. Como a Argentina é um polo forte da paleontologia, também é um país expressivo na paleoarte", fala Maurílio. Portanto, é do argentino Ugo Paillos, por exemplo, a reprodução de um Tupandactilus, pterossauro brasileiro reconstituído com técnicas de animatronic, que permitem que ele bata as asas, como se estivesse voando, abra o bico e emita som. Outro argentino, Carlos Papolio, está expondo ilustrações e esculturas. "Mas o que mais chama a atenção é sua técnica digital de mesclar ilustrações do animal com fotografias, para mostrar o ambiente real. O que é bastante difícil porque clima e plantas são bastante diferentes ao longo do tempo."
Embora pequeno, com cerca de 80cm, uma das réplicas mostra, em tamanho real, um Microraptor gui, dinossauro carnívoro, que usava suas quatro asas para planar pelos céus da China durante o período cretáceo (há 121 milhões de anos). A reprodução, feita por Orlando Grillo, paleontólogo e artista do Museu Nacional, foi possível a partir da doação por pesquisadores chineses de uma cópia do fóssil do animal. "Pela ossatura era possível ver que havia registro de penas. Para a reconstituição, foram implantadas penas verdadeiras de aves de porte semelhante", diz Maurílio.
O Microraptor ganha maior importância ao sabermos que, na linha de evolução das espécies, foi o precursor das aves. "E não os pterossauros, como muita gente acredita. Enquanto os pterossauros desapareceram, esses dinos foram se adaptando; seus dedos encurtaram e os braços se tornaram mais longos, dando origem às asas. Seus ossos se tornaram mais leves, ele ganhou penas e desenvolveu capacidade endotérmica, ou seja, passou a controlar a temperatura corporal. E a partir dele, surgiram as aves."
Ilustração de Maurilio Oliveira |
Scorpiovenator: um dinossauro carnívoro da Pagatônia argentina |
Estarão em exibição ainda réplicas de um Santanaraptor; da cabeça em tamanho real de um Angaturama limai. O próprio Maurílio está expondo ilustrações e esculturas de todas as épocas e continentes, procurando retratar 150 milhões de anos de evolução. Entre as réplicas que reconstituiu, está a de um filhote de Carnotauro, ou touro carnívoro. Com aproximadamente 50cm, trata-se de um dinossauro que apresenta uma curiosidade: tem chifres
Quem não puder visitar pessoalmente a exposição, poderá fazer uma visita virtual. Será, na verdade, a primeira mostra do gênero, em 3D, na América Latina. Para tanto, será preciso entrar no endereço www.dinosvirtuais.museunacional.ufrj.br , a partir de 25 de agosto, e começar o passeio pelos salões do museu. Com tecnologia VRML/3D, será possível não apenas visualizar as imagens, mas manipulá-las, observando cada peça por diferentes ângulos. Para isso, as peças do acervo – as já exibidas e as ainda inéditas da Coleção de Paleontologia – foram digitalizadas com equipamentos do Instituto Nacional de Tecnologia (INT), que faz escaneamento em terceira dimensão, e do próprio museu.
Para possibilitar sua visualização, é preciso instalar um plug-in, disponibilizado no próprio site da exposição Dinos Virtuais. O projeto é resultado da parceria com outras unidades da UFRJ, como Laboratório de Pesquisa em Tecnologias da Informação e da Comunicação (Latec) e do Laboratório de Métodos Computacionais (Lamce), do patrocínio do CNPq, do apoio do INT e do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (Cenpra), de Campinas. Seja nas reconstituições ao vivo, nas imagens virtuais ou nas palestras, o grande tema do evento é a paleoarte. E como volta a enfatizar Maurílio, "essa é uma arte que não existe sem o comprometimento com a ciência".
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