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Publicado em: 17/07/2009
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Dermatose ocupacional: um problema muito além das aparências

Danielle Kiffer

Divulgação

      

         Dermatite alérgica ocasionada pelo contato
         com cimento (bricomato de potássio)

O local de trabalho pode ser um ambiente propício ao surgimento de alergias conhecidas como dermatoses ocupacionais. De acordo com a dermatologista Maria das Graças Mota Melo, os casos mais comuns são as dermatites de contato, ou eczemas, em que a pele fica vermelha, com descamação e coceira e, dependendo da intensidade, pode formar vesículas (bolinhas d’água) com eliminação de líquido na área afetada. Ela é coordenadora do Serviço de Dermatologia Ocupacional do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp), considerado como mais um serviço de excelência da Fundação Oswaldo Cruz. Ali, são atendidos por mês, cerca de 60 pacientes, encaminhados pela Rede do Sistema Único de Saúde (SUS), por sindicatos ou pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Deste número, em torno de 12 são casos novos de dermatose ocupacional.

“Os nossos atendimentos incluem pacientes para primeira consulta, além de reconsultas para esclarecimento do diagnóstico, tratamento ou emissão de laudos técnicos. Acredito que haveria um número bem mais alto se pudéssemos agendar mais pacientes” explica a médica.

Para saber se você sofre de dermatose ocupacional, é necessário prestar atenção nos sintomas. “A dermatite de contato (eczema), como o próprio nome diz, vai ser percebida pelo trabalhador a cada contato com o agente causal. Se o elemento químico causador da dermatose for muito irritante, poderá provocar queimadura e até ulceração na pele. A alergia melhora com o afastamento do local de trabalho e piora com a reexposição. O ideal seria que cada pessoa tivesse conhecimento sobre os riscos existentes no trabalho, pois esta informação poderia contribuir para a detecção mais precoce da dermatose”, explica Maria das Graças. Outras dermatoses ocupacionais frequentes geralmente são as micoses que surgem principalmente nos pés, ocasionadas pelo uso constante de botas de couro ou de borracha. De acordo com a dermatologista, os casos mais graves são os dos pedreiros. Como normalmente há demora em estabelecer o diagnóstico, e, usualmente, eles não costumam utilizar proteção quando lidam com o cimento, já chegam ao Serviço de Dermatologia em estado grave. Isto também costuma acontecer com pintores, faxineiros e manicures.

Muitos profissionais podem estar sofrendo de dermatose ocupacional sem estar cientes disto. “Os produtos químicos em contato com a pele propensa à alergia comumente geram eczemas, mas também podem provocar queimaduras, alterações da cor da pele (manchas escuras, manchas vitiligóides), erupções liquenóides e até câncer de pele. Os diferentes agentes biológicos geram doenças específicas, dependendo da atividade exercida por cada trabalhador, como, por exemplo, esporotricose em veterinários e candidíase ungueal em faxineiras. Agentes físicos como frio, calor, radiações ionizantes e não ionizantes também causam dermatoses. Vale a pena destacar o trabalho com exposição solar por agricultores, pescadores, guardas de endemias, agentes de saúde etc, que além do envelhecimento precoce da pele, também sofrem danos oculares e até câncer de pele.” Na maioria dos casos, a observação e a informação podem ser fundamentais. “É extremamente importante detectar o mais cedo possível que a doença tem relação com a atividade exercida. Se tiver, a primeira medida é avaliar que ações podem ser tomadas. Às vezes, basta afastar o trabalhador da exposição a uma determinada substância, do seu setor e até do próprio trabalho.”

 Divulgação
       
    A dermatologista Maria das Graças (ao centro) e sua
      equipe do Serviço de Dermatologia Ocupacional

O processo de investigação para a constatação de que uma alergia é realmente causada no ambiente de trabalho é, na maioria das vezes, lento. O primeiro passo é colher uma história detalhada sobre a doença e sobre aspectos do trabalho do paciente. “Pedimos que o paciente nos relate sobre sua rotina profissional, pois este é um passo fundamental para o esclarecimento sobre sua exposição aos diversos agentes causadores, sejam físicos, químicos, biológicos ou mecânicos. Depois fazemos um exame físico de toda a superfície cutânea, o que nos permitirá verificar o modo do contato, ação da luz solar e a presença de outras dermatoses. No caso de suspeita de micose, solicita-se exame micológico direto e cultivo para fungos. Às vezes, é preciso fazer biópsia de lesão cutânea. Porém, o exame mais importante é o teste de contato que poderá esclarecer alergia a uma determinada substância. Este é, de fato, um trabalho de detetive, pois qualquer detalhe é importante e poderá desvendar o caso. As informações dadas pelo paciente podem ser pistas valiosas. Solicitamos que eles tragam rótulos de produtos, luvas utilizadas, produtos suspeitos e, às vezes, até a visita ao local de trabalho se torna necessária”, detalha a dermatologista.

Para realizar este procedimento, após a primeira consulta, se for indicado o teste de contato para avaliação da dermatose, o trabalhador precisará retornar mais três vezes em uma mesma semana ao consultório: a primeira para aplicação do teste, a segunda para a leitura do teste com 48 horas de aplicação, e a terceira, para leitura com 96 horas. Depois, se o paciente não precisar realizar outros testes, terá mais uma consulta para receber o laudo técnico para a empresa e/ou para a perícia médica do INSS. “Este é um grande entrave para a conclusão das nossas investigações, porque, além de ter que arcar com o custo da locomoção, o indivíduo tem que faltar ou chegar atrasado ao trabalho. Além disso, em muitos casos, para estabelecermos um nexo causal com a atividade desenvolvida no trabalho, é necessário um período maior do que o de observação do paciente”, completa. As dermatoses ocupacionais são consideradas acidentes de trabalho pela legislação.

De acordo com Maria das Graças, é importante que o trabalhador tenha uma legislação voltada para esse tipo de acidente de trabalho, mas, como o percurso até o reconhecimento da doença é longo e demorado, poucos são contemplados. “Existe uma dissociação entre a legislação e o esclarecimento para os próprios profissionais do serviço de saúde sobre as dermatoses ocupacionais. Para começar, não existe serviço especializado em dermatose fora da Fiocruz no Rio de Janeiro, os médicos não são preparados, e os trabalhadores não têm ideia de que se trata de uma doença acometida pelo trabalho. Dessa forma, há uma subnotificação dos casos. Não há um trabalho em conjunto que permita que o trabalhador chegue ao INSS com todas as informações para o uso de um direito que é dele”.

 Divulgação

      
         Alergia provocada pelo uso de luvas de látex
 
Dependendo da causa da alergia, os profissionais podem ou não voltar ao seu trabalho. “Há casos que são de fácil resolução, mas as dermatites de contato podem ser bastante complicadas. Medidas de prevenção e proteção são feitas, como o tipo de luvas adequado ou outro equipamento de proteção que podem ser adotados e adaptados ao trabalhador. Informamos sobre a evolução provável da doença, em que produtos essas substâncias causadoras de alergia podem ser encontradas e que outros sinônimos estas substâncias têm. Também alertamos para o risco da substância apresentar reação cruzada com outro grupo químico. Por exemplo, quem tem alergia a parafenilenodiamina (principal alérgeno da tintura de cabelos) pode passar a ter alergia a sulfa (antibiótico), a sulfoniluréia (medicação para diabetes), a benzocaína (anestésico) e a fotoprotetores à base de PABA (ácido paraminobenzóico). Quando a doença é detectada precocemente, 25% dos pacientes ficam curados e 50% melhoram com algumas recaídas. Entretanto, há outros 25% que não se curam de forma alguma”, conta a dermatologista. Nestes casos extremos, o paciente precisa mudar de emprego.

E, muitas vezes, os problemas vão bem além disso. “As mãos e os antebraços são comumente afetados, o que além de incapacitar para sua profissão, compromete bastante do ponto de vista estético. O indivíduo poderá sofrer danos não só no trabalho, mas em qualquer lugar, inclusive na família. Muitos, inclusive, relatam abandono pelo cônjuge. Ocorre perda salarial, comprometimento estético, perda da capacidade de trabalho, dificuldades para obtenção dos direitos trabalhistas, resultando em baixa auto-estima. Nos casos com mais de dois anos de acompanhamento em nosso serviço, percebe-se nitidamente o comprometimento emocional do paciente. Tentamos minimizar esses danos com o esclarecimento, orientações preventivas e terapêuticas, emissão de laudos técnicos, orientações sobre a legislação vigente, acompanhamento dos casos que necessitam de benefício previdenciário, encaminhamento para outros especialistas, quando necessário, mas sabemos que há necessidade de uma estrutura especializada bem maior e mais ampla. É uma parcela mínima de trabalhadores no Rio de Janeiro atendida no nosso serviço. Faz-se necessária construção de uma rede de atuação em Saúde do Trabalhador, especialmente, de dermatologia ocupacional”, relata Maria das Graças.

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