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Publicado em: 22/04/2009
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Livro investiga o universo dos fãs de Raul Seixas


Débora Motta

                                                    Divulgação

   
  Culto a Raul Seixas é objeto de pesquisa sobre
  relação entre fãs e ídolos na contemporaneidade 

Raul Seixas não morreu. Ao menos no imaginário dos fãs, o cantor e compositor (1945-1989) que encanta gerações com suas letras irreverentes e composições marcantes continua vivo, legitimando o bom e velho rock’and’roll. Para entender melhor a relação entre fãs e ídolos, a pesquisadora Rosana da Câmara Teixeira analisou o culto a Raulzito durante seu doutorado em antropologia cultural no Programa de Pós-Graduação em Antropologia e Sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGSA/UFRJ). A tese rendeu o livro Krig-ha, bandolo! Cuidado, aí vem Raul Seixas (editora 7 Letras, 2008), publicado por meio de Auxílio Editoração da FAPERJ.

Afinal, que tipo de identificação leva um indivíduo – o fã – a admirar outro – o ídolo –, que se torna alvo de certas percepções e atitudes? O livro busca responder a essa questão, refletindo sobre a idolatria e a constituição dos fãs-clubes. "Nesse estudo, a admiração está sendo pensada como um fenômeno social revelador de processos de construção de subjetividades e das formas de sociabilidade características da sociedade contemporânea, que explicitam certas concepções sobre indivíduo e sociedade; passado e presente; memória e biografia; e biografia e contexto", diz Rosana, que utilizou como base teórica uma bibliografia de cunho antropológico e sociológico.

A pesquisadora já tinha iniciado sua análise a respeito do binômio fã e ídolo durante seu projeto de mestrado, realizado também no PPGSA/UFRJ, sobre grupos de torcedores organizados de futebol, pertencentes às torcidas jovens cariocas. "Foi aí que a questão da idolatria ganhou visibilidade para mim. Eu tinha em mente estudar uma forma de adesão tão incondicional, como a torcida revelou-se para estes torcedores, mas cuja identidade constroi-se não somente pela coletividade. Meu interesse recaía sobre a identificação entre indivíduos: fã-ídolo", conta.

O desejo de estudar a experiência dos fãs divulgadores de Raul Seixas, dos "raulseixistas" e dos "raulmaníacos" surgiu a partir de um programa diário de televisão. "Assistindo a um quadro sobre ídolos e fãs, acompanhei a entrevista de Sylvio Passos, fundador e presidente do Raul Rock Club, fã-clube oficial do cantor e compositor. Fiquei fascinada com o universo de fãs, até então invisível para mim, que ele descrevia", lembra ela.

Letras censuradas pela ditadura

O processo de pesquisa contou com dois anos de trabalho de campo, quando Rosana aproveitou para trocar ideias e conhecer as visões dos fãs. "Realizei entrevistas e participei de eventos como a passeata realizada anualmente em São Paulo, no aniversário de morte do artista. Além dos depoimentos dos admiradores anônimos, muito importantes também foram as considerações daqueles que conviveram com Raul Seixas", diz a pesquisadora.

Rosana garimpou ainda importante material, incluindo letras de Raul marcadas com o carimbo de "vetado" pela ditadura militar. "Tive a oportunidade de pesquisar o acervo de documentos escritos, no tocante às letras de músicas, do Arquivo Nacional no Rio de Janeiro. Nessa etapa obtive, além dos pareceres de algumas composições censuradas durante o regime militar, outras que não constam das listagens oficiais", ressalta a antropóloga, que também realizou levantamento de notícias publicadas nos anos 1970 e 80 sobre o artista.

A antropóloga destaca a influência das novas tecnologias no surgimento de novas formas de sociabilidade entre os fãs. "A relação fã-ídolo vem sendo redimensionada pelo advento da Internet, possibilitando um intercâmbio sem precedentes entre fãs em todo o território nacional e até mesmo fora deste", avalia. "Outras modalidades de divulgação entram em cena, como as páginas, além das várias comunidades criadas no Orkut", completa Rosana.

Viva a Sociedade Alternativa!

 Divulgação 
     
 Irreverência do artista simbolizava a
 rebeldia da geração da contracultura 
Raulzito continua fazendo sucesso mesmo após a sua morte, em 1989. Fã de Elvis Presley e Luiz Gonzaga, ele mesmo declarou, em entrevista à Revista Manchete, em 1979, a certeza da imortalidade de sua obra ("Porque eu tenho certeza de que não vou morrer mesmo"). Para Rosana, muitas são as características da persona de Raul Seixas que contribuem para sua mitificação póstuma. "Como compositor, sua sensibilidade múltipla revela-se tanto na fusão de ritmos, incorporando em seu repertório, além do rock e do baião, pontos de umbanda, boleros, tangos, modas de viola, quanto nos temas variados que aborda, prevalecendo o tom irônico no tratamento que dispensa a figuras bíblicas, personagens históricos, personalidades do meio artístico ou da política nacional como em Al Capone e Super Heróis", pondera.

Em letras longas, ácidas, impregnadas de críticas sociais e existenciais, ele questionava o casamento, o exército, a tradição cristã e a política, como em Medo da Chuva, Mamãe eu não queria, Cowboy fora da lei, Ouro de Tolo e Metamorfose Ambulante. Outra música que tornou-se símbolo da obra de Raul Seixas é Sociedade Alternativa, em que o poeta cita versos do mago inglês Aleister Crowley (Faze o que tu queres, há de ser tudo da Lei). "Trata-se de um símbolo polissêmico, pois assume muitas significações, e polifônico, já que admite simultaneamente várias interpretações, seja pelo viés anarquista, mágico, filosófico ou existencial. Não sendo unívoco, é diferentemente apropriado e apreendido. Certamente, isso tem muito a ver com a maneira como o próprio Raul tratou o tema. Primeiro como uma utopia coletiva e depois como estímulo à ação individual", conclui.

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