O seu browser não suporta Javascript!
Você está em: Página Inicial > Comunicação > Arquivo de Notícias > Pesquisa investiga práticas de ensino voltadas para a democratização social
Publicado em: 26/03/2009
ATENÇÃO: Você está acessando o site antigo da FAPERJ, as informações contidas aqui podem estar desatualizadas. Acesse o novo site em www.faperj.br

Pesquisa investiga práticas de ensino voltadas para a democratização social


Débora Motta

                                                                            Divulgação

       
     Práticas de ensino comprometidas com a pluralidade valorizam
     o conhecimento do cotidiano presente em atividades manuais  
A educação é um campo fundamental para a construção de valores democráticos e para a transformação social. Partindo dessa premissa, Inês Barbosa de Oliveira, professora do Departamento de Estudos Aplicados ao Ensino da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), dedica-se ao projeto Currículos praticados, emancipação social e democracia no cotidiano da escola: do invisível ao possível, contemplado pela FAPERJ por meio do edital Cientistas do Nosso Estado. À frente de um grupo de pesquisadores que investigam o cotidiano escolar, Inês avalia o papel de práticas de ensino voltadas para a democratização da sociedade, desenvolvidas em escolas da rede municipal do Rio – muitas vezes por iniciativa individual de professores –, em contrapartida ao modelo de educação tradicional.

Para a educadora, essas alternativas de ensino que fogem ao padrão exigido pelo modelo de educação tradicional são consideradas práticas de emancipação social, visto que propõem uma leitura pluralista e democrática da realidade. "Encontramos nas escolas inúmeras práticas cotidianas que, em maior ou menor grau, atacam o sistema dominante. Ao fazer isso, elas se constituem como emancipatórias, porque democratizam a relação entre os diferentes", diz Inês, que concluiu pós-doutorado na Universidade de Coimbra sob orientação do sociólogo Boaventura de Sousa Santos.

"Buscamos determinadas práticas de ensino que sejam de alguma maneira subversivas em relação ao modelo que segue o pensamento hegemônico. Procuramos professores que façam trabalhos identificados como progressistas em educação, que prezem por valores mais democráticos e pelo reconhecimento da multiplicidade cultural não como um problema, mas como um potencial. Essas práticas abordam, por exemplo, as diferenças entre a cultura negra e a européia, entre as diferentes religiões, entre os gêneros e entre os conhecimentos escolares e os conhecimentos que não são aceitos dentro da escola. Justamente, as práticas consideradas marginais ao sistema", define.

Essas práticas são pautadas por atividades que valorizam o cotidiano dos alunos e dos professores e reconhecem o saber informal, além do saber formal proposto pelo modelo de educação tradicional. "Quando uma professora organiza com a turma um passeio em que as crianças vão fazer compras na feira, valorizando um tipo de conhecimento do cotidiano que normalmente é ausente na escola e responsabilizando os alunos integralmente pela tarefa, ela está fora do modelo porque assume que as crianças são capazes de ter responsabilidade, que fora da escola existem conhecimentos importantes e que a aprendizagem dos conteúdos formais se dá em diálogo com a vida cotidiana real. Ela está então subvertendo o sistema", explica a pesquisadora.

"Quando um professor trabalha a importância da contribuição afro para a formação do país, fora da perspectiva do futebol e do samba meramente, também apresenta uma alternativa ao sistema. Quando debate a validade das diferentes religiões, ele se opõe ao modelo de dominação vigente, que diz que o certo é o que vem da Europa, é branco, heterossexual, cristão, burguês e culto, no sentido do erudito que possui um conhecimento formal. O modelo reduz tudo à competência técnica", acrescenta Inês, que registra as práticas também através de imagens.

Segundo a educadora, a imagem que ilustra bem o diálogo entre os saberes formal e informal, proposto na pesquisa, é a de uma rede. "Não podemos puxar um fio sem estragar uma rede, mesmo que ela tenha diferentes fios. Da mesma forma, não é possível separar o que é chamado de conhecimento formal do que é chamado de conhecimento informal. Não são dois conhecimentos diferenciados. Os saberes estão misturados, o que é ignorado pelo formalismo do sistema. A idéia do trabalho é encontrar os elementos dessa complexidade que valorizam a ruptura da hierarquia e a multiplicidade", diz.

Durante a pesquisa, cerca de 25 práticas emancipatórias foram observadas nos anos iniciais do ensino fundamental, em várias escolas municipais. "Acredito que no ensino fundamental ainda temos as melhores possibilidades de compreender amplamente a realidade, porque ela é menos fragmentada, até pelo fato de só se ter uma ou duas professoras lidando com as crianças, com formação de educadores mais ampla do que dos professores das diferentes disciplinas do ensino médio. É importante atuar nessa fase inicial da vida, em relação à formação ética, política e moral das crianças", avalia Inês.

A observação das práticas especificamente em escolas públicas foi proposital. De acordo com a educadora, as escolas públicas têm um perfil pluralista, mais adequado aos objetivos da pesquisa. "O ideário da escola particular não é o mesmo da escola pública. A expectativa da pública é proporcionar uma educação no sentido mais amplo, atendendo à pluralidade do seu público. Na escola pública você vai ter o pai conservador, o pai progressista e o pai que não sabe sequer o que pensa sobre isso. Já a escola particular é um gueto. Todo o mundo pode pensar do mesmo jeito", considera.

Entre as influências teóricas que sustentam o projeto, como a do historiador Michel de Certeau, destaca-se o pensamento de Boaventura de Sousa Santos. "O trabalho de Boaventura é um suporte importante para a pesquisa porque ele avança muito na teoria da democracia e no reconhecimento dos múltiplos conhecimentos. Uma das bases teóricas é a sociologia das ausências e das emergências, que trata do reconhecimento e das horizontalidades na relação entre os diferentes saberes e culturas, rompendo com o cientificismo e com o formalismo que caracterizam a sociedade contemporânea", conclui.

Compartilhar: Compartilhar no FaceBook Tweetar Email
  FAPERJ - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
Av. Erasmo Braga 118 - 6º andar - Centro - Rio de Janeiro - RJ - Cep: 20.020-000 - Tel: (21) 2333-2000 - Fax: (21) 2332-6611

Página Inicial | Mapa do site | Central de Atendimento | Créditos | Dúvidas frequentes