Débora Motta
Divulgação |
Logo do projeto: gestão do atendimento ao infarto |
“Por enquanto, são quatro hospitais contemplados: Lourenço Jorge, Souza Aguiar, Salgado Filho, da rede municipal do Rio, e Hospital Geral de Bonsucesso, da rede federal. A Secretaria Municipal de Saúde já sinalizou positivamente para a participação do Miguel Couto”, diz a coordenadora do projeto, Margareth Portela, da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz). Ela destaca que o projeto mobiliza equipes multidisciplinares, para padronizar as boas práticas médicas no atendimento a pacientes com infarto agudo do miocárdio nas emergências desses hospitais. “Cada hospital receberá ampla capacitação de uma média de 500 profissionais de várias áreas, desde médicos e enfermeiros, passando por técnicos de enfermagem, até vigilantes, recepcionistas e maqueiros. Todos serão sensibilizados no sentido de facilitar um diagnóstico mais rápido e a intervenção médica em casos de infarto agudo do miocárdio.”
A participação de todos os profissionais – especialmente daqueles que não são da área de saúde, mas têm grande importância no processo devido ao primeiro contato mantido com os pacientes nas salas de espera das emergências – é um diferencial para agilizar a assistência médica. Segundo o cardiologista Alfredo Brasil, um dos pesquisadores envolvidos no projeto, o tempo é um fator chave para salvar pessoas com infarto agudo do miocárdio. "O quadro pressupõe a existência de uma artéria obstruída no coração e é necessário agir com rapidez para tentar restabelecer o fluxo sanguíneo nessa artéria. As estratégias terapêuticas incluem medicamentos e/ou procedimentos para desobstruí-la, o que deve ser feito no menor espaço de tempo possível. Quanto mais rápido o paciente for atendido, maior a possibilidade de preservar o músculo cardíaco, reduzindo a extensão da necrose”, explica.
O projeto propõe preencher uma lacuna no atendimento do SUS a esses pacientes. “Superlotação é um problema recorrente nas emergências públicas e acaba resultando num longo tempo de espera, com evidentes prejuízos para esses pacientes. A implementação de estratégias para identificar rapidamente os que apresentam infarto e dispensar-lhes o tratamento correto contribui para melhorar a qualidade da atenção, reduzindo o risco de morte, tendo em vista que a maioria dos óbitos nesses casos ocorre na primeira hora”, alerta Brasil. E prossegue: “O paciente ideal é aquele que recebe tratamento trombolítico até seis horas depois do início do infarto, com benefício máximo na primeira hora.”
Para difundir os procedimentos assistenciais a serem adotados no Programa de Reconhecimento de Atenção ao Infarto Agudo (Praia), uma das metas é a distribuição de material explicativo às equipes. “Elaboramos um material de sensibilização a todos os profissionais, que inclui livretos contendo as diretrizes clínicas, bótons, fôlderes com fluxogramas e cartazes para a identificação dos sinais de um infarto agudo do miocárdio. Tudo customizado para valorizar as lideranças locais das emergências escolhidas, que serão co-responsáveis pelo processo de capacitação dos demais profissionais naquela emergência”, diz Margareth Portela. “Além disso, cada hospital recebeu da Fundação um computador e um projetor multimídia para capacitação e armazenamento dos dados retrospectivos de antes da implementação do projeto, que serão comparados com os dados de seis meses depois, para medir a eficácia das estratégias”, completa.
O projeto surgiu a partir da experiência pioneira da equipe de pesquisadores no Hospital Geral de Bonsucesso, em 2006. “Houve uma melhora significativa no atendimento aos pacientes infartados
De acordo com Margareth, uma das referências conceituais do trabalho é o modelo inglês de gestão da clínica. “A governança clínica consolidou-se no sistema nacional de saúde na Inglaterra no fim dos anos 1990, mas, em essência, é uma proposta presente em vários países que têm como objetivo a melhoria contínua da qualidade no atendimento em saúde”, diz a pesquisadora, lembrando que a gestão do atendimento ao infarto agudo do miocárdio passa por procedimentos médicos já conhecidos. “O objetivo é conduzir, no nível organizacional, as diretrizes clínicas voltadas para a melhoria da qualidade assistencial, baseadas em evidências científicas. Existem poucas divergências em relação ao melhor cuidado que deve ser oferecido ao paciente que acaba de sofrer um infarto”, completa.
Além de possibilitar um atendimento mais efetivo, a governança clínica permite a otimização dos recursos para a saúde. Para se ter uma idéia do impacto causado pelas doenças isquêmicas do coração para os cofres públicos fluminenses, o SUS gastou com internações desse tipo, apenas no estado do Rio de Janeiro, entre 1999 e 2003, um valor equivalente a 4,6% do seu gasto anual médio de US$ 191 milhões para internações de todas as causas, em contraponto ao equivalente nacional de 3,3%. “Trabalhamos com a realidade dos hospitais, utilizando as tecnologias já disponíveis no SUS para atender pacientes com infarto agudo do miocárdio da melhor forma”, conclui Margareth, que não descarta a futura expansão do projeto para outras unidades hospitalares do SUS.
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