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Publicado em: 12/02/2009
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Pesquisa avalia os efeitos do cigarro na adolescência


Débora Motta

                                                                       Divulgação

   
   Fumaça do cigarro tem mais de quatro mil substâncias
Que o cigarro faz mal à saúde todos já sabem. Porém, embora a nicotina seja considerada a grande vilã da dependência química, ainda não se sabe ao certo como as mais de quatro mil substâncias presentes na fumaça do cigarro – como níquel, arsênico e monóxido de carbono – interagem com ela, determinando a dependência. "Os estudos na área estão muito concentrados nas ações farmacológicas da nicotina, mas é preciso saber qual o papel das outras substâncias psicoativas do cigarro e se elas potencializam ou atenuam o efeito da nicotina", diz o professor Alex Christian Manhães, do Laboratório de Neurofisiologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Pensando em avaliar o real efeito da nicotina, ele coordena, junto com a professora Yael de Abreu Villaça, a pesquisa Alterações comportamentais e bioquímicas em um modelo experimental de exposição à fumaça do cigarro durante a adolescência, contemplada pela FAPERJ no edital Jovem Cientista do Nosso Estado, de 2008.

A escolha da adolescência como enfoque do estudo justifica-se pelo perfil dos fumantes. "Mais de 90% dos fumantes inicia esse hábito durante a adolescência e três quartos deles vão manter o vício durante a vida adulta", assinala Alex, acrescentando que a grande pergunta da pesquisa é se os efeitos da fumaça do cigarro inalada durante essa época da vida refletem os efeitos da exposição à nicotina ou se existem efeitos neurais associados às outras substâncias presentes na fumaça do cigarro.

A pesquisa, prevista para começar em março de 2009, será baseada em experimentos com camundongos adolescentes, já que estudos com humanos tornam-se difíceis por razões éticas. Com o objetivo de avaliar alterações neuroquímicas em diferentes regiões cerebrais e mudanças comportamentais dos camundongos devido ao fumo, eles serão expostos à fumaça do cigarro e ao consumo de nicotina. "Os animais serão estudados ao longo de diferentes períodos: durante a exposição na adolescência e após o período de exposição, na vida adulta", diz o pesquisador.

Para simular a exposição à fumaça do cigarro, os camundongos serão transportados diariamente para um equipamento importado dos Estados Unidos – adquirido recentemente no laboratório, com apoio da Fundação –, projetado especificamente para estudos de exposição à fumaça do cigarro. No primeiro teste, os camundongos serão divididos em quatro grupos de estudo (com 60 machos e 60 fêmeas por grupo). Cada um será submetido à fumaça de cigarros experimentais, desenvolvidos pela Universidade de Kentucky (EUA), elaborados com níveis diferentes de nicotina, além das outras substâncias componentes. "O primeiro grupo será exposto à fumaça com alto teor de nicotina (1,74 mg); o segundo, com médio teor (0,73 mg); o terceiro, com fumaça praticamente sem nicotina, (0,14 mg); e o grupo controle, só com ar filtrado", explica. "Os animais serão expostos por um período de oito horas durante a adolescência, o que se aproxima da exposição dos humanos, que mantêm níveis aproximadamente constantes durante o dia e interrompem o consumo durante a noite", completa.

Um outro grupo de animais será exposto à nicotina oral, diluída numa solução de água e sacarina, para compensar o gosto amargo da nicotina. Essa será a única fonte de líquido disponível para eles, e trocada diariamente. Este grupo será utilizado para verificar como a nicotina, sem a presença dos demais componentes da fumaça do cigarro, afeta os parâmetros avaliados. Até o fim da pesquisa, em 2011, pelo menos 800 camundongos serão submetidos a esses testes. As cobaias escolhidas pertencem à cepa C57BL/6, mais receptiva à pesquisa. "Essa cepa apresenta menor rejeição ao gosto amargo da nicotina", justifica. Para comparar os efeitos da exposição à nicotina oral com os efeitos da exposição à fumaça do cigarro, a concentração de nicotina em ambos os casos será similar. "Os níveis de cotinina plasmática, o principal metabólito da nicotina, devem ser os mesmos nas duas situações", explica Alex.

Uma das metas da pesquisa é investigar se as alterações comportamentais associadas à exposição à nicotina e à fumaça do cigarro durante a adolescência apresentam diferenças marcantes entre si do ponto de vista funcional. "Serão avaliados nos camundongos os comportamentos associados a memória e aprendizado, níveis de ansiedade e procura por novos estímulos", ressalta.

Vários estudos demonstram que a exposição à nicotina durante a adolescência afeta comportamentos relacionados à ansiedade, de acordo com padrão de exposição, dose e sexo. "O nível de ansiedade em animais expostos à nicotina é maior durante o período de abstinência na adolescência. Isso também ocorre em humanos. Jovens que apresentam respostas ansiolíticas quando fumam, isto é, que se sentem mais tranquilos ao fumar, têm mais probabilidade de se tornarem dependentes, alegando que o cigarro relaxa em situações de estresse", explica o cientista.

Para medir a ansiedade em camundongos, ele vai utilizar o teste do labirinto em cruz elevado (Elevated Plus Maze). "Vamos observar o comportamento dos animais de acordo com seu posicionamento no labirinto, em formato de cruz, formada por braços com ou sem parede lateral. Quando ansiosos, eles procuram ficar nos braços protegidos pelas paredes", diz. Já no teste do campo vazado (Hole Board), será avaliada a procura por novos estímulos – comportamento de risco comum na adolescência. "O consumo do cigarro e de outras drogas é mais freqüente para adolescentes com mais motivação pela novidade. Por isso, a curiosidade dos camundongos será testada, de acordo com seu desempenho quando colocados em um ambiente com 16 orifícios desconhecidos para eles, e que podem ser explorados livremente pelos animais", acrescenta.

Outro ponto a ser levantado pela pesquisa é discutir os possíveis malefícios das terapias de reposição com nicotina para jovens, empregadas como uma alternativa para abandonar o vício. "Os efeitos do cigarro, que afeta as sinapses neuronais, no cérebro dos adolescentes são permanentes. Nessa fase, o sistema nervoso está mais vulnerável do que na vida adulta, já que ainda está em desenvolvimento", alerta o pesquisador que já desenvolve essa linha de pesquisa pioneira no Rio há cinco anos, sempre em parceria com os professores da Uerj Yael de Abreu Villaça e Cláudio Filgueiras, e com o apoio da Fundação. O trabalho rendeu publicações internacionais nas revistas científicas Neuropsychopharmacology e Behavioural Brain Research.

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