Vilma Homero
Divulgação |
Degeneração inflamatória provocada pelo PMMA |
"O PMMA é usado amplamente na medicina, sob a forma de cimento ósseo, dentaduras e próteses. Desde 1989, passou a ser aplicado como microesferas injetáveis para correção de deformidades de partes moles, como o remodelamento do nariz", explica Castro. Mas os casos de pacientes em que o PMMA provocou infecções ou migrou do ponto em que foi injetado e infiltrou por outras áreas também se tornaram frequentes. "Nesses casos, procuramos controlar a infecção e efetuar a retirada do material, o que é sempre complicado, já que ele é de difícil visualização. E o caso se torna ainda pior quando a substância infiltra."
Foi esse o ponto de partida para a pesquisa de Castro, que reuniu 21 pacientes do Serviço de Cirurgia Plástica do Hupe (12 mulheres e nove homens), entre os 18 e 77 anos, portadores de orelhas de abano. "A escolha de pacientes com esse tipo de problema se deveu ao fato de que mais tarde a retirada do material enxertado para análise do tecido seria bastante fácil e sem prejuízos para o paciente", fala o médico. A retirada do tecido foi feita seis meses depois de injetada a substância. A amostra de pele local foi levada para estudo histopatológico.
"A análise demonstrou que, nesse meio tempo, o PMMA foi absorvido em todos os 21 pacientes, houve infiltrado celular em 20 deles e que em 19 houve também a formação de tênue cápsula fibrosa. Em 18, a cartilagem mostrou-se espessada, apresentando degeneração celular", fala o médico. Para ele, o resultado permite concluir que a fagocitose das microesferas de PMMA, ou seja, sua absorção pelos tecidos, não garante o caráter permanente do preenchedor e evidencia sua migração. Em 5% dos voluntários houve degeneração cartilaginosa, embora não se tenha observado resposta inflamatória ou extrusão em nenhum deles.
"O problema é que é quase impossível efetuar um controle efetivo sobre substâncias como o PMMA. Até porque como se trata de procedimento simples, em que o resultado pode ser visto na hora, muitas vezes é feito em consultórios ou mesmo em salões de estética, sem maiores cuidados. E a procura é enorme."
Castro explica que uma substância alternativa é o restilane, de uso bem mais seguro. Mas ele reconhece que, como seus efeitos são de no máximo seis meses, a preços equivalentes ao PMMA, tanto pacientes quanto médicos terminam optando pelo segundo. "O paciente precisa estar muito bem orientado. Muitas vezes, ele chega ao consultório querendo resultados milagrosos. E, às vezes, mesmo alertado, entre, por exemplo, uma cirurgia – em ambiente cirúrgico, depois de exames pré-operatórios – e um procedimento rápido, de efeito imediato, mas sem tantos cuidados, é muito difícil que o paciente se decida pela primeira opção", fala.
Some-se a isso o fato de que se dez pessoas diferentes passarem por um mesmo tipo de cirurgia, serão dez evoluções diferentes, já que cada organismo responde de um modo peculiar. Alguns terão excelente evolução e resultados. Outros nem tanto. O que termina também contribuindo para mascarar o desempenho negativo de uma determinada substância, como o PMMA. "Por isso, realizar a pesquisa e analisar os resultados tem uma grande importância. Espero que sirva para direcionar uma tendência de deixar de usá-la", finaliza.
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