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Publicado em: 30/09/2003
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Mesa-redonda discute sistema de cotas na universidade

 

O sistema de cotas para afro-descendentes nas universidades públicas estaduais do Rio de Janeiro foi o tema de debate realizado nesta terça-feira, 30 de setembro, no auditório do Centro Administrativo do governo do Estado, no Centro. O encontro, que contou com a presença de representantes da sociedade civil, do meio acadêmico e de ONGs, foi organizado pela FAPERJ em parceria com o IETS (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade). Os debatedores aproveitaram a oportunidade para discutir o rumo do Programa Jovens Talentos 2, lançado recentemente pela FAPERJ em parceria com o BNDES. O Programa visa apoiar estudantes que ingressam na universidade pelo sistema de cotas.

 

Na opinião dos organizadores, para muitos desses jovens, o direito ao ingresso na Universidade não é garantia de obtenção do diploma de ensino superior – sendo necessário criar, com urgência, instrumentos para apoiar uma parcela desses estudantes que não dispõem de meios para permanecer na universidade e concluir a graduação. Os debatedores foram unânimes em apontar o risco de evasão entre os universitários cotistas como um dos principais pontos que merecem atenção por parte dos responsáveis pela implementação do sistema nas universidades. “Mais perverso do que deixá-los de fora é não oferecer os meios para que os estudantes cotistas possam continuar estudando depois de ingressarem na universidade”, disse o diretor-presidente da FAPERJ, Marcos Cavalcanti, na abertura do debate.

 

O lei de cotas visa diminuir as reconhecidas desigualdades presentes na sociedade brasileira, em que há uma notória assimetria de condições econômicas e educacionais entre os filhos de classe média e os de famílias carentes. O professor Cláudio Lopes, coordenador do Programa Jovens Talentos 2, lembrou que a iniciativa de lançar o novo programa tem respaldo no sucesso alcançado pelo Programa Jovens Talentos 1, destinado a alunos do Ensino Médio. O pesquisador lembrou que a UFRJ já recebe estudantes de baixa renda da Baixada Fluminense e que hoje há quinze deles no curso de engenharia da Universidade. “O novo Programa vem preencher uma lacuna de caráter técnico que poderá ajudar o país a reverter o atual quadro de injustiça social”, disse Lopes.

 

Para os debatedores, o ingresso na universidade não é suficiente para garantir o êxito dos alunos cotistas nos estudos. Egressos, em sua maioria, de escolas públicas com baixa qualidade de ensino, esses jovens muitas vezes sequer possuem os meios básicos – como transporte, alimentação, moradia e renda mínima – para mantê-los na universidade. Uma das idéias defendidas ao longo do debate foi a instituição de um “tutor”, que teria a função de acompanhar o aproveitamento dos alunos nos estudos a fim de assegurar o seu bom desempenho.

 

A reitora da Uerj, Nilcéa Freire, destacou que é essencial trabalhar para que os alunos do grupo de cotistas que ingressam na universidade possam ser integrados sem traumas ao ambiente universitário. Em fevereiro passado, a Uerj formulou um programa de auxílio aos estudantes com dificuldades de inserção na universidade. “É fundamental que eles possam freqüentar as chamadas disciplinas instrumentais do nosso programa de apoio acadêmico, além de interagir com os colegas, freqüentar as atividades e alcançar bom desempenho em suas carreiras específicas”.

 

A dificuldade para determinar quem é afro-descendente no País, em razão da enorme miscigenação racial brasileira, foi um dos temas abordados por Jailson de Souza e Silva, do Observatório Social de Favelas do Rio de Janeiro (OSF), programa de pesquisa e ação do IETS. “Os EUA não têm maiores dificuldades para identificar a sua população afro-descendente. Aqui, no entanto, há um expressivo contingente de afro-descendentes que não está necessariamente entre os que mais necessitam de apoio para chegar à universidade”, disse o pesquisador e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF). Para este, “é preciso definir se é o fenótipo ou a pobreza que irá determinar a política de combate à desigualdade no país”. Outro ponto que mereceu destaque na exposição do pesquisador foi a questão da "fuga de cérebros" das comunidades de baixa renda. “É preciso criar uma rede de jovens pesquisadores que, uma vez garantido o seu ingresso na universidade, desenvolvam algum tipo de trabalho junto às suas comunidades de origem, visando melhorar as condições daqueles que não tiveram a mesma sorte”.

 

O convívio entre os alunos afro-descendentes - na grande maioria dos casos egressos de comunidades de baixa renda - e os demais estudantes deve ser estimulado. Esta é a opinião da pesquisadora Tatiana Roque, do Instituto de Matemática da UFRJ. “Há, naturalmente, uma tensão produtiva do conhecimento a partir do contato entre esses dois grupos e que pode contribuir para jogar a favor da universidade”.  O reitor da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), Raimundo Braz Filho, manifestou preocupação em relação à tutoria dos estudantes. “Concordamos todos que é necessário encontrar um professor que se disponha a acompanhar esses alunos cotistas, mas não podemos entregar essa tarefa a qualquer pesquisador. Será necessário encontrar pessoas adequadas para essa função”, disse.

 


No encerramento dos trabalhos, Marcos Cavalcanti disse que as discussões em torno do tema devem prosseguir. “Hoje não fizemos ‘o’ debate mas apenas um debate sobre o assunto” , disse. Mesmo admitindo que o país ainda carece de dados confiáveis, Cavalcanti disse que o imobilismo não pode prevalecer. “Temos que agir mesmo sob risco de cometer erros e ter de corrigi-los ao longo do caminho”. Participaram, ainda, das discussões: Thales Pontes Luz, representando o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação, Fernando Peregrino; Nelson Janot Marinho, vice-reitor da PUC, e Giuseppe Cocco, da Escola de Serviço Social da UFRJ.

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