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Publicado em: 02/10/2008
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Curso de férias ajuda na melhoria do ensino de ciências em escolas públicas

Vinicius Zepeda



Vinicius Zepeda 

       

     Leopoldo de Meis: 13 universidades 
     do país se inspiraram em seu projeto

“Eu tenho uma amiga que pensa em terminar o Ensino Médio e depois arranjar um emprego qualquer. Ela nem sonha fazer uma faculdade, não se acha capaz. Eu, ao contrário, aprendi a me interessar cada vez mais pela biologia, pelas ciências, e a correr atrás dos meus objetivos. Quando tenho dúvidas, não fico parada, busco tirá-las por meio de consulta a livros, pesquisas na internet, conversas com especialistas.” O relato é de Beatriz Ribeiro Chaves, 16 anos, moradora do bairro Jardim América, Zona Oeste da cidade. Ela é um dos exemplos do sucesso do Curso de Férias, projeto desenvolvido no Instituto de Bioquímica Médica, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que busca desmistificar o ensino de ciências entre alunos de escolas do Ensino Médio que moram em áreas carentes da cidade e também visa aperfeiçoar o ensino da disciplina entre professores. Desenvolvido desde a metade dos anos 1980, os cursos passaram a ser sistematicamente apoiados pela FAPERJ na década seguinte. Em 2007, o projeto foi um dos contemplados pelo edital Programa de Melhoria do Ensino nas Escolas Públicas do Estado do RJ.

Os cursos de férias, que acontecem nos meses de janeiro e julho de cada ano, foram uma iniciativa criada e coordenada pelo médico e pesquisador do Instituto de Bioquímica Médica (IBqM), Leopoldo de Meis. Nesta quinta-feira, 2 de outubro, em sessão solene do Conselho Universitário, ele recebeu do reitor da UFRJ, Aloísio Teixeira, o título de professor emérito da universidade. A homenagem se soma aos vários prêmios científicos que já ganhou ao longo da vida, como o Primeiro Prêmio da Academia de Ciências do Terceiro Mundo. Além de desenvolver suas pesquisas na área de Ciências da Vida, de Meis sempre teve interesse em projetos que despertassem a vocação científica em alunos de baixa renda, desfazendo o chavão de que crianças e adolescentes vêem ciências como uma matéria chata e distante de sua realidade.

Por meio de visitas a escolas públicas, os monitores apresentam o projeto aos professores e alunos. Os interessados podem concorrer às vagas disponíveis. Para os estudantes, os cursos têm duração de uma semana (de segunda à sexta-feira), num período de oito horas diárias. Durante este tempo, eles recebem aulas práticas nas áreas de ciências naturais e da saúde. “Nosso objetivo é dar oportunidade ao jovem de baixa renda aprender o que é ciência. É uma forma de lhes oferecer a possibilidade de um futuro melhor. Os estudantes que mais se destacam, inclusive, são selecionados para estágio remunerado nos laboratórios de pesquisa do IBqM, sob a orientação dos pós-graduados” , explica de Meis. “Esta troca é altamente rica; o pós-graduado ensina ao jovem sobre a pesquisa e o integra ao ambiente universitário. Já o jovem mostra uma outra realidade de vida que, muitas vezes, a universidade parece ignorar”, acrescenta.

Hoje, um dos coordenadores do curso, o biólogo Wagner Seixas da Silva, é o exemplo mais bem-sucedido de ascensão social que pode se proporcionada por meio da ciência. Em 1994, aos 17 anos, participou dos três temas do curso e  foi selecionado para estagiar no IBqM. “Na época, eu morava em Vigário Geral e, sem muitas perspectivas, aprendia a consertar rádio e TV”, recorda. “Durante o estágio no laboratório, minha dedicação fez a equipe acreditar em mim e pagar meus estudos num cursinho pré-vestibular e de inglês. Acabei ingressando na Faculdade de Biologia da UFRJ, em 1997. Em 2000, já com três trabalhos publicados em periódicos internacionais, fui direto para o doutorado e, em seguida, para o pós-doutorado na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos”, lembra.

Para professores, tanto de Ensino Médio quanto do Fundamental, o trabalho é desenvolvido em duas semanas e também segue períodos de oito horas diárias. Na primeira semana, os professores chegam com seus próprios questionamentos e tentam, a sua maneira, respondê-las por meio da metodologia científica. Na segunda semana, são os docentes da universidade que apresentam palestras para possibilitar a atualização dos métodos utilizados pelos professores. Apesar de não haver nenhum impedimento à participação de escolas particulares, 90% do público participante vem da rede pública.

O Curso de Férias procura mostrar aos professores que, apesar da falta de infra-estrutura dessas escolas – que em grande parte das vezes não contam com laboratórios ou não têm material adequado para a realização de experimentos científicos –, é possível tornar agradável o ensino de ciências para os jovens. Além disso, também se procura criar um vínculo entre o professor da universidade e o da escola pública. “O fato de abrirem mão de duas semanas de suas férias para assistirem aulas aqui na UFRJ é um indicativo de que estão dispostos a contribuir para melhorar o sistema de educação. Nós, da universidade, precisamos entender isso e adequar nossa metodologia à realidade destes docentes”, explica de Meis.

O encerramento, tanto do curso para professores quanto para alunos, acontece numa grande confraternização, com a exibição da peça teatral O método científico, seguida pela apresentação do material didático elaborado pelos pesquisadores do IBqM. O projeto tem dado tão certo que vem se expandido para universidades fora do Rio de Janeiro. “A iniciativa espalhou-se para outras 13 universidades públicas pelo país que também têm desenvolvido seus cursos de férias”, conclui de Meis.

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