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Publicado em: 25/09/2008
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Quando a música, além de divertir, é remédio para curar todos os males


Rosilene Ricardo


   Rosilene Ricardo

       
    Pacientes da clínica Ronaldo Milleco em trabalho terapêutico
Às vezes uma boa música pode ser um remédio tão eficaz quanto às fórmulas vendidas nas farmácias. Num trabalho com meninos de rua, o musicoterapeuta rebateu a letra de um funk violento que um deles cantava com outra, mais melodiosa. O efeito dos versos “Por que você me deixa tão solto? Por que você não cola em mim? Tô me sentindo muito sozinho!”, da canção Sozinho, de Peninha, foi imediato. O menino se calou ao perceber como que aquele trecho de música retratava exatamente seus sentimentos. A jornalista Maria Cristina Fiorotti também foi outra que sentiu na pele os resultados da musicoterapia quando se tratava de um transtorno bipolar. “A arte me devolveu a vontade de viver e recuperou minha alegria. Hoje, consigo ser uma pessoa mais centrada", conta. Alegre e tranquila, ela e a banda Os Ecléticos participaram nesta quarta, 24 de setembro, da abertura do Encontro de Musicoterapia do Estado do Rio de Janeiro, no Palácio Gustavo Capanema, o conhecido prédio de azulejos azuis do MEC, no Centro do Rio. O encontro é um dos três eventos que até sábado, 27 de setembro, movimentarão o Conservatório Brasileiro de Música (CBM). Os outros dois são o VIII Encontro Nacional de Pesquisa em Musicoterapia e a VIII Jornada Científica de Musicoterapia do Estado do Rio de Janeiro.

A iniciativa de congregar profissionais interessados em unir música e terapia surgiu há 40 anos no Conservatório Brasileiro de Música (CBM ). O curso de graduação sobre a nova disciplina foi reconhecido pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) dez anos mais tarde. Um marco que também está sendo comemorado este ano. Com a realização dos três eventos, o que se espera é dar maior visibilidade à musicoterapia, discutir a clínica e incentivar a produção e divulgação da pesquisa acadêmica. "Esses fatores são fundamentais para o pensamento crítico contemporâneo, para que se construa um conhecimento compartilhado", explica a vice-presidente dos eventos e professora Marly Chagas.

Por meio da música e seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia), a musicoterapia busca promover comunicação, relacionamento, aprendizado, mobilização, expressão, organização e outros fins terapêuticos que atendam às necessidades físicas, mentais, sociais e cognitivas dos clientes. Pode ser empregada como auxiliar no tratamento de diversas doenças, de deficiência mental até mesmo o câncer, com um trabalho para ajudar no lado psicológico. Pode servir ainda como um recurso para apoiar os últimos momentos de vida de alguém, atenuar o peso da proximidade da morte.

Segundo Marly Chagas, muitos neurologistas a indicam como complementar ao tratamento clínico. "No início, procuramos conhecer como é a vida do cliente, seu histórico musical, quais os sons que lhes trazem lembranças, sejam elas boas ou ruins. Depois, vemos a melhor forma de ajudá-los. Mesmo um surdo também pode fazer musicoterapia porque, além de ser ouvida, a vibração do som pode ser sentida pela pele, pelo tato. A música está presente até mesmo na vida de quem não escuta", explica Marly.

Para fazer o curso do conservatório, uma graduação de quatro anos, é preciso passar por um vestibular e submeter-se ao teste de aptidão específica para testar se o candidato tem um mínimo de conhecimento musical, se lê partituras e conhece um pouco de teoria. Segundo Marly, o musicoterapeuta é um profissional muito especial. "Não sendo um músico de concerto, ele precisa ter sensibilidade, saber escutar o som que o paciente faz e dar um retorno com outro som, frase ou música. Ele atua não com o olhar do artista, mas com a sensibilidade e com a visão clínica do terapeuta", fala. Outra aplicação é como ferramenta para o trabalho com os idosos. "Com a música, eles adquirem não somente uma nova dignidade de vida, como conseguem recuperar parte da cognição e percepção auditiva perdidas", explica a professora.

O curso do CBM mantém convênio com diversos centros de saúde em que a musicoterapia é empregada como auxílio terapêutico. Durante a graduação, seus alunos fazem estágios e pesquisas nessas instituições, sempre com a supervisão dos professores do conservatório. Entre elas, estão a Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR), Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais do Rio de Janeiro(Apae-Rio) e a Clínica Social de Musicoterapia Ronaldo Millecco, instalada desde 2002 no prédio do próprio conservatório e parte integrante da formação de musicoterapeutas. Ali, pacientes com dificuldades financeiras têm acesso a tratamento.

Pacientes psiquiátricos do CPRJ criaram conjunto musical Harmonia Enlouquece

Outra instituição conveniada com o CBM é o Centro Psiquiátrico Rio de Janeiro (CPRJ). Tem dado tão certo que dos encontros semanais para ouvir, cantar, tocar, compor e, sobretudo, estabelecer um contato rico em sentimentos e emoções por meio da música, surgiu o grupo Harmonia Enlouquece. Entre seus nove integrantes, estão um musicoterapeuta e um enfermeiro. "Tem pacientes esquizofrênicos que passaram a vida inteira isolados, como é o caso do próprio vocalista da banda. Com a musicoterapia, ele descobriu que podia compor e interpretar. Sem ele, com certeza o Harmonia perderia um braço", conta o psicólogo, musicoterapeuta e integrante do grupo Sidney Martins Dantas. Ele acrescenta: "Nas composições, falamos da história de vida dessas pessoas, numa forma de vê-la compartilhada e valorizada", diz.

No CPRJ existem diversas formas de tratamento, que variam do hospital-dia à internação para os casos mais graves. Entre as diversas atividades terapêuticas, há ensaios de teatro, festas, debates e encontros, todos com a finalidade de melhorar a qualidade de vida dos pacientes. "Não existe louco, mas sim a loucura, que é uma doença e pode ser tratada", enfatiza Dantas.

Outro convênio do CBM é com a maternidade-escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "Mantemos ali um trabalho com bebês prematuros, para auxiliar não só na recuperação motora e respiratória mas também com o aspecto psicológico das mães. Imagina o medo que elas têm de perder esse bebê, que às vezes pesa pouco mais de 500g, mal dando para pegar nas mãos. Nessa situação tão delicada, em que começa a se formar um vínculo entre pais e bebês, a música tem ajudado bastante", conta Marly Chagas.

Integrante da primeira turma de graduados em musicoterapia, em 1975, a coordenadora da clínica Ronaldo Millecco, Lia Rejane Mendes Barcellos hoje dá aulas no conservatório. "Há tratamentos individuais e em grupos. Atualmente atendemos diversos adultos com depressão, com mal de Parkinson e até mesmo autistas, que somaram o maior número de casos em 2007", explica Lia Rejane. A clínica participa também de trabalhos sociais, envolvendo a música. "Já trabalhamos com meninos de rua para que eles conseguissem expressar suas angústias e seus medos através da música. É claro que a musicoterapia não vai resolver problemas sociais e nem dizer se a casa dele é melhor ou pior do que as ruas, mas pode fazer com que ele se sinta melhor diante da sociedade", acrescenta Marly Chagas.

Na programação do Encontro de Musicoterapia do Estado do Rio de Janeiro, que acontecerá entre os dias 24 a 27 de setembro, haverá palestras, mesas-redondas e apresentação de temas livres. Participantes internacionais darão cursos, como o argentino Rolando Benenzon, um dos pioneiros da musicoterapia e orientador do curso no CBM durante muito tempo, falará sobre seu método, em "Modelo Benenzon em Musicoterapia". O dinamarquês Lars Ole Bonde tratará do tema "Analisando a Música em Musicoterapia – improvisações e composições: uma visão de métodos quantitativos e qualitativos". Haverá ainda apresentação de vídeos sobre trabalhos realizados por diversos musicoterapeutas. A abertura do evento será no Palácio Gustavo Capanema, e as palestras acontecerão no Conservatório Brasileiro de Música (Avenida Graça Aranha, 57/ 12 andar, Centro).

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