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Publicado em: 25/09/2008
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A memória da velha-guarda das escolas de samba contada pelas imagens


Vilma Homero

Roberto Conduru 

        
    Na escola de Quintino, jovens alunos participam de
    oficina de imagem para aprender a produzir vídeo
O professor de História da Arte Roberto Conduru é um pesquisador inquieto. Dos estudos sobre a arquitetura racionalista no Rio de Janeiro, que foi sua tese de doutorado, a trabalhos sobre a estética na religiosidade afro-brasileira, ele se dedica a esmiuçar a arte do país, em seus aspectos menos abordados. Quando, por intermédio de uma de suas orientandas, tomou conhecimento sobre o projeto Guardiões da Memória numa escola estadual, em Quintino, viu aí uma oportunidade de concretizar o desejo dos estudantes do Colégio Estadual Professor Souza da Silveira em produzir um vídeo e, para ele, de abordar mais uma face da cultura nacional: o samba. Para isso, o pontapé inicial foi o edital de Apoio às Escolas Públicas, da FAPERJ, que possibilitou os recursos para tirar o projeto do papel.

Nas imagens do vídeo, integrantes das velhas guardas contam histórias do samba e de suas experiências nas escolas a que pertencem. Afinal, eles são a memória viva de uma parte de nossa cultura, e foi isso exatamente que motivou os alunos do Colégio Estadual Professor Souza da Silveira a querer documentá-los. Em "Patrimônio artístico-cultural, (re)construção identitária e afro-brasilidade", o professor Conduru teve um papel especial. Seu objetivo foi o de passar questões conceituais e procurar capacitar os estudantes na linguagem audiovisual. Foi como eles aprenderam a lidar com as várias etapas da produção de um vídeo, desde as pesquisas iniciais e criação do roteiro à direção, filmagem e edição. E principalmente a refletir sobre os temas da cultura, memória e afro-brasilidade.

Paralelamente a essas reflexões, Conduru vai bem além. A idéia da equipe do projeto, composta também por Carla Lopes e George Araújo, era a de tornar real o significado da palavra "empoderamento". Na prática, isso equivaleria a não só oferecer as oficinas, mas ensinar os alunos a dominar técnicas de uso de um tipo de equipamento simples a que eles sempre possam ter acesso, como celulares e câmeras fotográficas. Em outras palavras, um aprendizado que não se limitasse a uma única obra e fosse depois esquecido pela dificuldade de acesso a equipamento.

"Usamos tecnologia de baixo custo para as filmagens, como câmeras fotográficas e de vídeo digitais, e celulares que filmam e fotografam. Queríamos que, além desse curta-metragem, eles aprendessem a dominar um tipo de mídia que pudesse ser usada a qualquer momento", fala Conduru. À medida que o projeto ia caminhando, as necessidades que surgiram foram sendo resolvidas por meio de contatos que resultaram em novas parcerias. O Comitê para a Democratização da Informática (CDI), por exemplo, interessou-se em transformar sua experiência e equipamento em workshops para passar aos alunos do Souza da Silveira o trabalho de edição de imagens. Contactada em São Paulo, a Pinacle não se furtou a oferecer uma oficina sobre um software que permite a edição nesse tipo de mídia – celulares e câmeras fotográficas. "Todo o equipamento doado passará a fazer parte do acervo da escola", diz o pesquisador.

 Reprodução

     
As imagens de membros das velhas guardas no Carnaval foram gravadas no vídeo do projeto

Tudo isso tem motivado bastante os estudantes e animado o pesquisador. "Além do incentivo ao debate sobre a questão racial e de identidade cultural entre os estudantes, o vídeo também serve para evitar que a memória de um bem cultural tipicamente brasileiro, como o samba, se perca", explica Conduru. É bem verdade que as discussões sobre identidade racial e cultural já aconteciam na escola, que desde 2005 desenvolve o Programa de Reflexões e debates para a Consciência Negra, do qual o projeto Guardiões da Memória é uma das ações. Foi nessas discussões que os alunos se deram conta de que próximo à escola havia a sede da Associação das Velhas Guardas das Escolas de Samba. Veio daí a idéia do vídeo. E seu desenvolvimento trouxe novo fôlego aos debates que já aconteciam.

"O desenrolar do vídeo tem envolvido toda a escola", conta Conduru. Nada mais verdadeiro. Os estudantes se enfronharam na pesquisa dos acervos de fotos e vídeos da Associação das Velhas-Guardas. Por outro lado, as oficinas semanais para produção do filme, aos sábados, acabaram não apenas motivando o cotidiano das aulas como até incentivando o retorno de estudantes que já haviam deixado a escola. Uma verdadeira integração comunidade/escola. "Alguns alunos resolveram voltar para participar do projeto. As discussões também passaram a inserir-se no conteúdo das disciplinas, como as letras de samba-de-enredo discutidas em aulas de português ou a mitologia afro-brasileira em aulas de Física", conta Conduru.

"Patrimônio artístico-cultural, (re)construção identitária e afro-brasilidade" não se limita apenas ao vídeo. A parceria entre Conduru e os alunos do Souza da Silveira renderá ainda um livro em que se documentará toda essa história. "Haverá depoimentos e textos com a fala dos participantes. São depoimentos ricos, interessantes. Neles, os estudantes falam da descoberta de outras dimensões da afrodescendência, contam como perceberam que a memória do pessoal das velhas guardas fazia parte do patrimônio imaterial cultural." Tão importante quanto, Conduru fala que é visível a mudança de postura desses alunos. "Percebe-se neles um outro vigor. Até porque, além das questões conceituais que passaram a discutir, eles também começaram a dominar técnicas de pesquisa, escrita e audiovisuais. Tudo isso pode ser o início de novos horizontes", entusiasma-se o pesquisador. A expectativa é que até novembro o vídeo esteja concluído.

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