Vinicius Zepeda
Divulgação/Uerj |
Depósito de detritos derivados do petróleo presentes no solo de uma área contaminada |
O estudo busca investigar a eficácia das técnicas de biorremediação e também de fitorremediação – uso de plantas para despoluição de áreas – no tratamento de solos poluídos por vazamentos de petróleo, borra oleosa, diesel, mistura de diesel com biodiesel e óleos lubrificantes usados nos solos das estradas fluminenses. “Nesse processo, tanto os microorganismos do solo isoladamente, quanto aqueles associados às raízes das plantas promovem a degradação do óleo derramado no solo. Ou seja, eles se alimentam do carbono presente no combustível pra poderem sobreviver e crescer. Desta forma, despoluem o solo. Algumas plantas também são capazes de extrair e imobilizar metais pesados que contaminam os solos” explica Marcia. “Num experimento em que 1,2% de Oil Gator – produto industrial dentre os mais utilizados internacionalmente para remediação de solo e água contaminados com óleo – e 10% de composto de lixo foram testados em reatores distintos com solos contaminados, o rejeito da Comlurb apresentou resultados superiores” prossegue.
Além da Uerj, o grupo de pesquisa inclui pesquisadores das universidades de Kalmar, de Lund e de Kristianstad – as três na Suécia -, a doutora Maria Luiza Araújo e técnicos da Pesagro-Rio (Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro) e da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). “A parceria internacional existe desde 2004. Já no final da década de 90, quando fiz o doutorado na Suécia, percebi que poderia adaptar alguns resultados das pesquisas à realidade brasileira. Na Europa, estima-se a existência de pelo menos 2 milhões de sítios contaminados. No caso brasileiro não temos estimativas, mas devido à grande circulação de caminhões para transporte de mercadorias em nossas rodovias e aos vazamentos em sistemas de armazenamento (postos de gasolina, etc), concluí que devíamos nos preocupar com métodos de baixo custo de remediação de áreas contaminadas com petróleo e seus derivados”, explica a pesquisadora.
Divulgação/Uerj |
Algumas espécies de vegetais se mostraram eficientes aliadas na remediação dos solos |
No caso da fitorremediação, os experimentos desenvolvidos em conjunto com a Pesagro-Rio já estão adiantados. “Em junho 2008 encerramos a segunda rodada dos testes de toxicidade na fase de germinação e crescimento inicial das plantas. Nesses testes, com concentrações crescentes de óleo no solo, verificamos quais espécies que se mostram tolerantes à presença do contaminante e em quais concentrações” afirma Sérgio Corrêa. “As espécies estudadas incluem plantas nativas de Mata Atlântica, espécies utilizadas na recuperação de áreas degradadas e produtoras de biodiesel, além da braquiária – comumente encontrada em beira de estrada” acrescenta Marcia.
Várias espécies vegetais mostraram potencial para remediação dos solos. Porém o químico Sérgio Corrêa ressaltou os cuidados que devem ser tomados quando espécies comestíveis são utilizadas. Segundo o pesquisador, os testes mostraram o excelente potencial da mamona e do girassol – que além de úteis na despoluição, servem para a produção de biodiesel. Ele acrescenta ainda que a utlização dessas plantas enfraquece a crítica de que a produção de biocombustíveis reduz áreas agrícolas que seriam utilizadas para o cultivo de alimentos. “Nossa pesquisa faz essa tese cair por terra. A mamona e o girassol são capazes de germinar em áreas contaminadas – ou seja, impróprias para a produção de alimentos” explica Corrêa. “A idéia agora é investigar os processos que ocorrem dentro das plantas quando em contato com o óleo lubrificante usado no solo. Para isso, faremos um amplo experimento com vasos de dois quilos em casa de vegetação” completa.
Na área da biorremediação, um novo experimento será conduzido e concluído nos próximos sete meses. Os pesquisadores envolvidos no processo construíram três biorreatores – aparelho usado para simular em escala piloto, pesquisas envolvendo processos biológicos – com capacidade para 200 litros cada. Nos experimentos, em cada um dos aparelhos são colocados partes de solos contaminados com diferentes aditivos e inóculos – inclusive o composto de lixo - para serem testados na degradação dos hidrocarbonetos de petróleo. “Temperatura, umidade e vazão de ar são monitorados regularmente e a cada 30 dias, retiramos amostras para analisarmos os resultados” explica Marcia.
A expectativa dos pesquisadores é que, ao final do estudo, as conclusões sirvam para subsidiar políticas públicas e solucionar danos ambientais. “A idéia é que as secretarias estaduais e municipais de meio ambiente e seus órgãos públicos de fiscalização – como a Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Feema), por exemplo, possam no futuro elaborar manuais de procedimento para o caso de vazamentos e acidentes com petróleo e derivados nas estradas, em áreas de processamento do óleo, etc. Com isso, os danos poderão ser solucionados de forma mais rápida e com maior eficácia”, concluem os pesquisadores.
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