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Publicado em: 11/07/2008
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ENTREVISTA: Jorge Guimarães

"Os avanços da ciência brasileira estão diretamente relacionados com o
      processo de formação de novos recursos humanos na pós-graduação"
 
                                    Jorge Guimarães, presidente da Capes/MEC


                      Divulgação:Capes  

            
        Guimarães: nova missão que
         ultrapassa a pós-graduação
      
Ao tomar posse, no início de 2004, na presidência da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), agência do Ministério da Educação (MEC), Jorge Almeida Guimarães definiu-se como "um autêntico produto da inclusão e da progressão social", tendo realizado seus estudos – do antigo curso primário até a pós-graduação – em escolas públicas. Professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro da Academia Brasileira de Ciências, o dirigente tem importantes trabalhos desenvolvidos nas áreas de química de macromoléculas, proteínas, enzimologia, farmacologia e bioquímica molecular, bioquímica e toxicologia. Em entrevista concedida por e-mail à revista Rio Pesquisa, Guimarães, nascido em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, defende a decisão do governo federal, tomada em julho de 2007, de estender a missão da Capes ao trabalho de qualificação de professores da educação básica. "É preciso dar um choque na formação de professores nos níveis fundamental e médio". Confira a seguir a íntegra da entrevista, publicada parcialmente na revista Rio Pesquisa (Ano I, N 3), de junho de 2008.

Rio Pesquisa – O Portal de Periódicos da Capes tem sido essencial para o desenvolvimento da pesquisa nacional. Como ele se distingue de outras formas de acesso à informação científica e quais são os planos da Capes para os próximos anos?

Jorge Guimarães – Desde 2000, o Portal de Periódicos é uma iniciativa da Capes. O acesso à informação impressa tende a diminuir no mundo, pois implica alto custo. Àquela época, já implicava um elevado custo para o MEC atender às bibliotecas das instituições federais de ensino superior (Ifes). Esse assunto foi trazido pelo então presidente da Capes, Abílio Afonso Baeta Neves, à consideração do Conselho Técnico Científico (CTC), do qual eu era membro. Os membros do CTC estimularam a Capes a entrar nesse segmento. Atualmente, nos melhores centros de pesquisa do Brasil e do mundo, pesquisadores, estudantes, técnicos, enfim, todos aqueles que necessitam de informações científicas atualizadas, não freqüentam mais bibliotecas, exceto para realizar pesquisas em artigos, periódicos e livros muito antigos ou mesmo raros. O acesso à informação científica corrente não se faz mais por meio do acesso a bibliotecas. O Portal veio, então, cobrir uma lacuna, que era óbvio que viria a ocorrer. Vemos isso acontecer hoje nas bibliotecas pelo mundo afora. Tem, além disso, custo-benefício altamente favorável, pois custaria ao MEC uma soma muito elevada para equipar razoavelmente as bibliotecas das suas instituições: 55 universidades e 30 Cefets com acesso impresso, ademais um acervo muito pobre quando comparado com o que o portal permite.

Sabidamente, os avanços da ciência brasileira estão diretamente relacionados com o processo de formação de novos recursos humanos na pós-graduação. O Portal tornou-se um instrumento importante por possibilitar que os estudantes e orientadores saibam o que está ocorrendo no mundo em diferentes temas de pesquisas abordados. Sem esse tipo de informação, o Brasil teria muita dificuldade para acompanhar o que está acontecendo na ciência mundial. Além dos 12.300 periódicos, o portal possui, também, 125 bases de dados, informação sobre os conhecimentos novos e, dessas bases, seis são dedicadas exclusivamente às patentes. Ele foi estendido de 2004 até a data de hoje de cerca de 2.400 para 12.300 títulos. Estamos praticamente atingindo o limite dos periódicos qualificados do mundo que são disponibilizados pela via virtual. Nosso plano é chegar lá. Se crescemos mais de cinco vezes nesses quatro anos, é nossa intenção atingir os limites em revistas oferecidas na forma de informação on-line.

Temos algumas dificuldades com os periódicos que são vinculados às sociedades científicas, porque a negociação é mais difícil, mais complicada, e muitas vezes não respondem às nossas solicitações. No entanto, com as publicações que são vinculadas às editoras, isto é, a um processo profissional de negociação de custo, isso raramente ocorrerá. Também, às vezes, temos dificuldades com algumas editoras que querem passar um pacote, um conjunto muito grande de outros produtos que não são tão úteis para nós. Por isso, hoje temos um consultor internacional contratado pela Capes para dar cobertura e apoio às negociações que temos de ter periodicamente com cada uma das editoras.

O Portal tem um custo considerável do ponto de vista do volume de recursos. No ano de 2007, foram cerca de US$ 35 milhões. Todavia, custaria muito mais somente ao MEC ter uma biblioteca muito modesta e limitada para cada uma das suas quase 90 instituições.

Temos, atualmente, um amplo acesso ao Portal, que atende a 188 instituições, ou seja, 100 a mais do que as próprias instituições do MEC. Cerca de 160 delas são inteiramente gratuitas, seguindo as regras da Capes e indicadas pelo comitê gestor do Portal, constituído por membros da comunidade científica que nos assessoram e que dão sugestões.

Este ano, várias instituições receberam o Portal gratuitamente pela primeira vez, destacando-se a Universidade Mackenzie, a Santa Casa de São Paulo e a Universidade Católica de Brasília. Nós utilizamos esses procedimentos com o objetivo de mostrar às universidades não públicas que há vantagens para elas terem cursos de pós-graduação, porque isso qualifica as instituições e possibilita que elas alcancem o conceito cinco e recebam o Portal de Periódicos gratuitamente. Há planos para estender esse direito a outras instituições públicas. Todavia, a regra continua sendo ter pós-graduação. Nesse sentido, várias instituições não têm acesso e podem adquiri-lo, como é o caso da Embrapa, que, não tendo curso de pós-graduação, recebeu tal acesso adquirido pelo Ministério da Agricultura. Mas outros órgãos, como a Petrobras, não querem ter acesso. Parece-me uma coisa estranha porque nosso acervo é muito mais amplo do que eles adquirem em papel. Temos negociado com outros organismos públicos, como o Inpi, Inep e Inmetro, sempre considerando o compromisso de montarem cursos de pós-graduação. Vale lembrar que nem todos os ministérios têm acesso. O Ibama não tem acesso porque eles não têm pós-graduação, e os Ministérios da Agricultura e de Ciência e Tecnologia o adquirem para os usuários vinculados.

Rio Pesquisa – Atualmente, o Brasil ocupa o 15 lugar entre os países com maior produção científica do mundo. A Capes teve e continua tendo um importante papel na melhoria deste indicador, por meio do estímulo e da avaliação dos cursos de pós-graduação. Como o senhor espera promover nos ensinos fundamental e médio essa mesma trajetória bem-sucedida? Como melhorar os baixos indicadores da educação básica? Como os programas de pós-graduação poderão contribuir para esse processo?

Jorge Guimarães – A Capes conquistou essa nova missão pela sua reconhecida trajetória de muito sucesso, tendo como base a qualificação da pós-graduação brasileira. Essa é também a nossa meta para a educação básica, cobrindo os ensinos fundamental e médio. Temos duas novas diretorias para essa finalidade, uma diretoria de educação a distância, que incorpora a Universidade Aberta do Brasil (UAB), e outra diretoria de educação básica presencial, ambas com foco na formação de professores. De fato, é um desafio muito antigo e um dos maiores desafios brasileiros, e a Capes está se instrumentalizando para enfrentá-lo. Teremos 140 novos funcionários porque o quadro atual é muito enxuto e não possibilitava atendermos, de imediato, a essa grande expansão, que já começou no fim de 2007. Seguimos agora em plena marcha no que diz respeito à educação a distancia por meio da UAB, com seus 259 pólos de apoio, com enfoque em seu componente presencial. Há uma segunda chamada para 250 novos pólos. Juntas, as duas diretorias buscam dar um choque na formação de professores dos ensinos fundamental e médio. No que diz respeito à diretoria presencial, são várias ações que estão em curso, tendo como foco atacar basicamente a preparação de futuros professores, desde o ensino fundamental, ou seja, enfrentando o problema desde a sua origem, sobretudo no ensino de matemática e ciências, mas também de outras disciplinas, como a língua portuguesa, geografia, história e as artes. Sabemos todos que é um complexo muito grande de dificuldades que temos no componente qualitativo. Para o ensino médio, também estamos desenvolvendo um conjunto de ações, tanto na UAB como na diretoria de educação básica presencial. O foco é sempre o estímulo e o fomento à formação de professores, cobrindo basicamente a física, que é o mais grave, a matemática, a química e a biologia. O caso mais dramaticamente grave é a física e, também, a química. Na matemática, o componente qualitativo é o que mais nos angustia.

De fato, é possível, em poucos anos, termos respostas bastante positivas. O que o MEC está fazendo é como "federalizar" com modelos de fomento e apoio à educação fundamental e média, sabidamente uma missão que não pertence diretamente a ele, a não ser como estimulador, uma vez que o ensino fundamental é de responsabilidade das prefeituras, e o ensino médio, dos estados. Então, o que estamos buscando fazer é aplicar o modelo que a Capes utilizou na pós-graduação, pelo qual o fomento e a avaliação permitiram estabelecer um modelo de "federalização" desse nível de ensino. Portanto, é nossa expectativa promover nos ensinos fundamental e médio essa trajetória bem-sucedida da Capes.

Para promover essa mudança, o foco central é a melhoria na qualidade da educação. Sabemos que o fracasso inicial está na matemática e nas ciências. Essas disciplinas são, portanto, o alvo de nosso primeiro ataque. Estamos trabalhando em acordo com a Sociedade Brasileira de Matemática e com o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), um projeto de ataque à questão do ensino de matemática. Abrindo a questão da matemática, abre-se uma série de mudanças, nas demais disciplinas, e esse é o primeiro foco que estamos disparando. Além disso, também estamos disponibilizando 20 mil bolsas de iniciação à docência para os alunos de cursos de licenciaturas, especialmente focada na matemática, física, biologia e português, mas também nas outras áreas pedagógicas, no sentido de possibilitar um processo formativo desse jovem estudante, o que poderá facilitar para que ele, já durante o seu curso de graduação, atue em escolas que serão associadas às universidades. Busca-se, assim, enfrentar a questão do processo formativo de maneira mais adequada para a formação de professores para os ensinos fundamental e médio.

Sabemos que o desafio é grande e que temos de adotar alguns modelos que possam facilitar tirarmos conclusões de qual é o melhor caminho a ser seguido. Sabemos, sobretudo, que é preciso valorizar o professor dos ensinos fundamental e médio, e precisamos valorizá-lo em todos os sentidos, incluindo o componente salarial e o reconhecimento da sociedade ao seu papel de educador e formador das gerações futuras bem qualificadas. Assim, sem professores preparados e motivados, será muito difícil avançarmos nas mudanças que são necessárias. Por isso, é preciso trabalhar o sistema educacional como um todo, com uma visão sistêmica. Vamos, portanto, incorporar os cursos de pós-graduação vocacionados. Para isso, estamos lançando o segundo edital de Observatório da Educação, que é uma chamada pública de apresentação de projetos pelos quais professores e alunos de cursos de pós-graduação se propõem a buscar elementos e modelos de atuação capazes de modificar o quadro que temos com a qualidade dos ensinos fundamental e médio. Nossa expectativa é termos mudanças mais ou menos rápidas a começar pelos resultados da Olimpíada de Matemática, que hoje tem o quadro desastroso de que apenas três em mil (0,3%) dos jovens que dela participam acertam metade ou mais da prova de matemática. Nesse quadro, é muito pouco provável que não possamos ter um resultado rápido. Penso que é um bom desafio passar para 3% num prazo relativamente curto e, mais para frente, para 10% dos alunos acertando metade da prova de matemática. É um desafio, mas é um desafio bom, sendo possível alcançar essa meta.

Rio Pesquisa – Os editais da FAPERJ de apoio à divulgação da C&T e de melhoria do ensino básico nas escolas públicas, fundamentando-se no conceito de que a comunidade precisa saber o que é a ciência para se comprometer com o seu desenvolvimento e que o gosto pela ciência tem de começar o mais cedo possível, têm tido grande aceitação na comunidade científica. Como a Capes vislumbra estimular esses dois aspectos? Como as agências estaduais de fomento à C&T poderiam agregar esses esforços?

Jorge Guimarães – O Brasil despertou tardiamente para a importância da ciência, como de resto tem acontecido com muitos outros segmentos da nossa história, aí incluída a área educacional. Nesse contexto, situa-se a questão da popularização e difusão da ciência e de suas aplicações tecnológicas. Só mais recentemente, iniciativas como as do Ministério da Ciência e Tecnologia e também de algumas fundações estaduais foram adotadas, estimulando feiras de ciências, publicações apropriadas, ampliação de museus e estações de ciências, todas mostrando que é um caminho a ser seguido. São esforços meritórios, buscando destacar que a ciência tem um significado maior para a população; que pode tornar acessível a todos o "pensar científicamente", uma atitude a ser exercitada continuamente e no dia-a-dia das pessoas. Para isso, alguns modelos me parecem bastante eficientes. Um deles é o adotado pelo Instituto Ciência Hoje em algumas escolas do ensino fundamental do Estado de São Paulo: os alunos recebem mensalmente um número da revista Ciência Hoje das Crianças. A cada número novo da revista, os professores são treinados por pesquisadores da universidade e pessoal da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) para prepararem os seus estudantes para os experimentos da temática daquele número da revista. Posteriormente, alunos e professores e o pessoal da SBPC fazem discussões sobre esses temas. Tenho uma grande simpatia pelo projeto, pois acho que ele pode trazer resultados muito rápidos para o sistema de ensino, tornando-o mais eficiente, porque ele envolve a criança (que leva a sua revista para casa), a família que quer saber o que a criança está aprendendo na área de ciência na escola e envolve os professores dessas crianças, com o apoio de pessoal científico qualificado para fazer essa aproximação entre a família, os alunos e os professores com temas científicos muito bem preparados que o Instituto Ciência Hoje faz. No projeto, há grande envolvimento da família porque eles querem saber e as crianças querem mostrar para os pais o que aprenderam fazendo, por exemplo, sob orientação segura, visitas a florestas, a museus, a regiões marítimas e suas praias, aprendendo sobre coleções artístico-culturais, sobre as características dos seres vivos e sua biologia na mata ou no ambiente marinho. Aprendem a coletar material para estudo e, com isso, os pais vêem os seus filhos envolvidos além da sala de aula, com um ambiente de aprendizagem com forte componente lúdico que essas experiências propiciam, levando a criança a aprender ciência fazendo alguma coisa que eles admiram e gostam.

Esse é o modelo que me parece bastante eficiente para envolver a criança o mais cedo possível com a temática científica e, portanto, avançar no sentido de fazer que apreciem os fundamentos e aplicações do conhecimento científico. Esse e outros modelos de projetos podem seguramente envolver a participação de outros parceiros. As fundações estaduais podem ser grandes parceiros nesse modelo de processo formativo. Crianças oriundas desse modelo serão alunos ativos, totalmente diferenciados no ensino médio.

Rio Pesquisa – Há uma discussão acerca de como incentivar projetos em longo prazo e em temas que fujam a paradigmas da ciência, como tem sido proposto por alguns. Como a Capes poderia atuar em seu sistema de avaliação da Pós-graduação para, também, atender a estes objetivos?

Jorge Guimarães – Nós temos incorporado vários indicadores no processo de avaliação, indicadores que não abrem mão do componente qualitativo. Por exemplo, a questão das patentes que foram incorporadas como parte importante do processo de avaliação nas áreas em que se aplicam; os cursos de mestrado profissional que têm um foco especial de avaliação, e cada vez mais precisarão ter esse foco, com a participação de personalidades e membros do segmento tecnológico e de serviços. Introduzimos o componente do fator solidariedade, que tem como pressuposto promover a associação de cursos de muito bom nível, com conceito alto na Capes, com cursos com dificuldades de desempenho, seja dentro ou fora da instituição ou em rede. São vários modelos. Também introduzimos o componente de nucleação, como um indicador importante de avaliação que indica quantos grupos, quantos cursos, pesquisadores, um determinado curso formou e vem formando ao longo da sua trajetória, nucleando, portanto, novos centros de pesquisa e pós-graduação.

Um aspecto significativo no processo avaliativo é o fato de que não basta ter um bom desempenho, precisamos nuclear outros segmentos para ampliar a base de C&T e expandir a capacitação de novos recursos humanos. Por esse procedimento podemos, ao analisar a proposta de um curso novo de uma determinada universidade, pública ou não pública, saber de onde estão vindo aqueles professores e pesquisadores que vão constituir o conjunto que dará sustentação e garantia de formação de pessoal em continuidade ao processo qualificado de onde vieram. Ou seja, que a nucleação de um curso de pós-graduação está ajudando a compor a nova proposta. Isto é um dado fundamental, baseado puramente num componente qualitativo, com boa dose de subjetividade, que os comitês das áreas têm sabido analisar muito bem.

A pergunta pode pressupor também a existência de paradigmas voltados à avaliação de temas de risco na pesquisa e formação de pessoal. Este é também um assunto que vem surgindo, a partir de algumas sociedades cientificas, entre elas a física. Antes desses questionamentos, nós havíamos solicitado à Sociedade Brasileira de Física um documento prospectivo sobre a situação da física no Brasil. O documento, editado pela Capes, está publicado no livro "Física para um Brasil competitivo" relacionando as perspectivas que a física nos coloca, não apenas na pós-graduação, mas muito além, incluindo também outros segmentos e setores dependentes de Ciência, Tecnologia e Inovação. A questões de se ter modelos, como o modelo Embrapa, como um sistema dedicado para a área cientifica está bem explicitado no texto da SBF. Nesse sentido, vale lembrar a iniciativa do Ministro Sérgio Rezende, propondo o sistema SIBRATEC, que deverá ter uma composição similar à Embrapa, embora com caráter virtual, englobando institutos e centros de pesquisa de todos os níveis, públicos e não públicos para atuarem em um outro estágio de P&D, tendo como foco o setor tecnológico. Tal iniciativa vai requerer a adoção de novos paradigmas de desenvolvimento e de formação de recursos humanos.

Aqui entra em cena um outro componente da atuação da Capes: a Cooperação Internacional. Sabidamente, a cooperação internacional tem forte apoio da agência e, nesse particular, a Capes vem cada vez mais aperfeiçoando os seus modelos de atuação, ampliando substancialmente o leque de países na cooperação, tanto com os países mais desenvolvidos como também com parceiros do continente, em especial com a Argentina, Uruguai, Cuba e México, diversificando o processo de formação de recursos humanos com parcerias internacionais qualificadas e estratégicas.

Rio PesquisaA maior parte dos cursos de pós-graduação no país está localizada nas regiões Sul e Sudeste, que detêm 72% dos cursos de mestrado e 80% dos cursos de doutorado. Na região Norte, esses percentuais são de 4% e 2%, respectivamente, de acordo com dados da Capes. Quais são os programas que a Capes tem desenvolvido para reduzir essas diferenças regionais e como as FAPs poderiam participar, em parceria, para atenuar estas diferenças?

Jorge Guimarães – A questão das distorções regionais em relação à capacidade instalada para pesquisa e pós-graduação é uma preocupação da Capes. Tais distorções têm sido reduzidas, todavia numa perspectiva de longo prazo essa questão continua sendo um grande desafio, uma preocupação, não apenas para a Capes, mas para outras agências de fomento de desenvolvimento científico e tecnológico, e, por conta disto, tem sido necessário tomar ações específicas. No caso da Capes, temos vários instrumentos operacionais que estão em curso. O PROCAD, que é um programa de apoio a grupos de pesquisa e pós-graduação, atuando em redes e pesquisando temas que incluem grupos de instituições mais fortes com grupos de instituições das regiões que tem maior dificuldade da capacitação de recursos humanos. Há ainda os modelos do mestrado e do doutorado interinstitucional que têm funcionado muito bem. Para dar suporte a essas ações, introduzimos no Plano Plurianual (PPA), em 2005, o programa "Novas Fronteiras", com recursos específicos, que objetiva dar suporte à formação de recursos humanos na Amazônia, no semi-árido e no Brasil Central. Essa iniciativa inclui o Programa "Acelera Amazônia" que já havia começado antes do "Novas Fronteiras" e que vem proporcionando operar parcerias com as fundações estaduais, especialmente no caso Amazônia. Diversos projetos estão avançando apoiados com tais recursos e temos tido boa receptividade para essa forma de atuar da Capes.

É necessário prosseguir nesse caminho, buscando, sobretudo, apoiar a formação de pessoal local, possibilitando maior sucesso na fixação de pesquisadores das próprias regiões e que desenvolvem projetos com a temática regional apropriada. Uma ação induzida nesse particular foi a aprovação pela Capes do Programa de Doutorado em Biotecnologia da Região Nordeste (Renorbio), que começou como atividade de pesquisa vinculada ao MCT e depois se consolidou como programa de doutorado que engloba 27 instituições da região, com temas de pesquisa locais e com enorme demanda de jovens que fizeram seus mestrados também na região, nos diversos cursos, e agora têm a opção de fazer o doutorado nesse programa. São maneiras de atacar as diferenças e as distorções regionais, mas é preciso levar em conta que só a fixação de novos doutores por um conjunto de ações pode amenizar e acelerar o processo de formação de "massa crítica" de pesquisadores, posto que os recursos, sejam da Capes ou de qualquer instituição, vão onde estão os doutores, e se não temos os doutores não temos também cursos de pós-graduação, o que impede a ampliação da formação de novos recursos humanos. Um amplo programa de iniciação cientifica, voltado mais fortemente para essas regiões, pode ser uma grande solução e estamos discutindo isso com as fundações estaduais.

Rio Pesquisa – Recentemente, foram suspensas pela Capes a concessão de novas bolsas de doutorado pleno no exterior em países que não oferecem contrapartida no financiamento destes cursos. Por outro lado, o doutorado sanduíche, em que apenas a parte experimental é realizada em universidades estrangeiras, tem sido estimulado pela Capes. Quais as diferenças entre os dois sistemas de apoio e por que a Capes vem estimulando mais o doutorado sanduíche?

Jorge Guimarães – A experiência internacional é para nós de fundamental importância para possibilitar aos nossos jovens conviverem em condições de pesquisa de nível avançado, sempre muito bem estruturada, uma vez que só mandamos estudantes para cursos no exterior em instituições muito qualificadas. A Capes não suspendeu permanentemente o doutorado no exterior; mantemos, por exemplo, com todo vigor, o programa nos Estados Unidos, face ao convênio que temos com a Comissão Fullbright. Com relação aos demais países, o que fizemos foi suspender, temporariamente, as concessões das bolsas de doutorado pleno no sistema de demanda espontânea, visando proceder a uma análise mais aprofundada do que vem ocorrendo com nossos bolsistas na Europa, sobretudo em face de diversos fatores: 1) não conclusão dos cursos em tempo hábil; 2) tendência de aumento de não retorno de bolsistas; 3) incompatibilidade do nosso doutorado com o Processo de Bolonha, introduzido em várias universidades européias; 4) excessivo aumento na cobrança de fees e outras taxas acadêmicas; 5) relação custo-benefício no desempenho de bolsistas em vários cursos de doutorado quando comparados aos bons cursos brasileiros nas mesmas áreas.

Estamos estudando, portanto, juntamente com os membros de comitês assessores, que caminho tomar em relação a isto, mas já sabemos, desde já, que o doutorado sanduíche tem um custo-benefício muito melhor do que a grande maioria dos doutorados plenos no exterior. Com recursos de um bolsista de doutorado pleno, podemos atender a quatro doutorados sanduíches e, se o desempenho é superior, especialmente tomando alguns paises como modelo, o investimento é muito mais adequado. Além disso, temos a garantia de retorno dos nossos bolsistas para a obrigatória conclusão de sua formação no Brasil.

Ademais, é importante considerar que também já temos no Brasil centros de pesquisa de nível internacional, com excelentes condições de trabalho e de desempenho, o que possibilitou avanços em muitas áreas do conhecimento, garantindo-se uma inversão no fluxo de estudantes e de pesquisadores que buscam no Brasil aperfeiçoamento científico e tecnológico. Nessas áreas e temáticas de pesquisa é hoje mais provável recebermos pesquisadores, mesmo do primeiro mundo, do que mandarmos nossos estudantes para cursos de pós-graduação para instituições desses países. Sabidamente, há várias áreas nas quais o Brasil se destaca no cenário mundial. Nesses casos, optamos mais pela cooperação internacional, já agora em condições de considerável nível de simetria nas atividades de pesquisa.

Por conta de tudo isto, estamos estudando a questão do doutorado pleno no exterior, mas essa modalidade continua também nos países europeus, sobretudo quando vinculados aos projetos de cooperação internacional. Inexiste, assim, suspensão definitiva dessa modalidade de apoio. Vale lembrar que outras agências já fizeram a opção de identificar setores para fomentar o doutorado pleno no exterior. Teremos, brevemente, uma definição mais definitiva sobre o assunto.

Rio Pesquisa – Os programas de mestrado profissionalizante têm atraído grande número de candidatos. Em sua opinião, qual o impacto desses programas no desenvolvimento científico e tecnológico dos estados e que áreas do conhecimento podem ser mais beneficiadas?

Jorge Guimarães – Os mestrados profissionais foram criados mais recentemente e têm tido, como era de se esperar, uma grande aceitação nas áreas em que cabe existir tal tipo de programa. Na verdade, já existem propostas e demandas até mesmo para o doutorado profissional. Vale destacar que o mestrado profissional se diferencia do acadêmico em dois aspectos: 1) no perfil do candidato, já que usualmente são pessoas com idade um pouco mais avançada e que já estão no mercado de trabalho, diferindo muito do estudante de mestrado acadêmico, que vem da iniciação cientifica; e 2) no foco do trabalho de dissertação, ou seja, o desenvolvimento de um trabalho usualmente aplicado. O estudante vai ter créditos de disciplina que complementam o seu processo formativo, mas o grande diferencial é o foco no trabalho que ele vai desenvolver para compor o mestrado profissional, resultando daí softwares, patentes, protótipos e serviços especializados.

Como era de se esperar, a administração, a economia, várias áreas das engenharias e a odontologia estão mais à frente na adoção dessa modalidade de formação. De fato, o que se constata é que muitos mestrados tidos como acadêmicos em várias áreas são, na verdade, profissionais, embora as áreas, muitas vezes, não queiram admitir isso. Não há demérito em formar o mestre profissional, uma vez que, do ponto de vista legal e da validade do diploma, os dois têm o mesmo peso e atribuem ao titulado o mesmo direito legal e, portanto, a mesma validade nacional. Assim, o mestrado profissional vem sendo estimulado. Nossa expectativa é que possamos atingir 25% do total dos mestrados não casados com o doutorado.

A Capes implantou programas de bolsas de pós-graduação em parceria com as FAPs (fundações de amparo à pesquisa) e com outras instituições. Qual a importância e futuro desses programas? Como a Capes poderia incentivar, em conjunto com as FAPs, os programas de pós-graduação dos estados?

Fizemos vários acordos, convênios e apoios em parceria com as FAPs, pois sabemos que esse é um modelo importante para reforçar a formação de recursos humanos. Em algumas FAPs, funcionou bem, mas em outras não, e estamos reestudando o modelo. Basicamente, a maior dificuldade surgiu porque a Capes repassou os recursos, e alguns governos estaduais fizeram caixa único, incluindo os recursos da Capes, inclusive daquela parte destinada ao pagamento de bolsistas. Por conta disso, nas novas parecerias, os bolsistas serão pagos diretamente pela Capes.

A ação conjunta com as FAPs é natural e óbvia, porque os mestres e doutores, ou seja, os técnicos formados na pós-graduação, servem primeira e basicamente ao próprio estado. Portanto, é de se esperar que os estados tenham uma ação mais concreta na participação do financiamento da formação de recursos humanos nos cursos localizados na sua jurisdição. Isso tem crescido muito lentamente, mas existe expectativa grande de que as FAPs venham assumir um pouco mais essa participação. De fato, quando fazemos esses acordos, a Capes não impõe nenhuma prioridade para os estados; quem impõe as prioridades são as FAPs. Aceitamos as prioridades e saímos com ações conjuntas. Esperamos dar continuidade ao modelo de acordo, avançando para novos desafios que as próprias fundações estaduais podem trazer.

Atualmente estamos vislumbrando modelos de formação, especialmente de doutores que possam servir às instituições acadêmicas e aos centros de pesquisa, em um formato mais induzido. Quero dizer com isso que vislumbramos acoplar o doutorado sanduíche e o pós-doutorado ao doutorado, num único processo de financiamento para formação induzida de recursos humanos capazes de acelerar tanto a renovação como a capacitação de pessoal dos centros de pesquisa.

Rio Pesquisa – Como a Capes pretende lidar com a demanda crescente de solicitação de credenciamentos de novos Programas de Pós-graduação e como atender ao anseio de crescimento dos Programas já consolidados? Que ações inovadoras a Capes tem programado para os próximos anos?

Jorge Guimarães – A demanda por cursos novos é inevitável e o crescimento do número de pós-graduandos também. E por quê isso? Porque apesar de já estarmos atingindo a marca de 10.000 doutores por ano, estamos muito distantes de ter no Brasil uma proporção de doutores por 100 mil habitantes como se tem nos paises desenvolvidos e nos paises com os quais estamos competindo: Coréia, China, Índia, Taiwan, Singapura, Espanha e outros. Todos esses países têm uma formação de doutores muito mais alta do que o Brasil, proporcionalmente à sua população. O crescimento é inevitável também pelo fato de que os cursos de graduação nas áreas que têm grande demanda de especialização mais sofisticada e inovadora não têm condição de formar o individuo que o segmento precisa, seja no tecnológico, acadêmico ou de pesquisa. A pós-graduação, por sua vez, é um processo formativo, onde o individuo está mergulhado no seu tema de pesquisa, fazendo os créditos em volta dessa temática, acompanhando o que está acontecendo pelo mundo, pelo portal de periódicos, e fazendo avançar inovadoramente o seu projeto de pesquisa. A inovação está, portanto, ali dentro do projeto de pesquisa, pois é ali que a inovação começa. Ao concluir seu curso, o jovem leva essa experiência inovadora para seu futuro local de trabalho, seja na empresa ou nos centros de pesquisa da universidade ou de organismos públicos ou privados.

Na verdade, a pós-graduação brasileira vem formando pessoal de primeira qualidade. Vejamos o caso dos nossos peritos de criminalísticas na Policia Federal: são todos doutores muito bem formados, pilotando equipamentos e máquinas de milhões de dólares que requerem competência específica para subsidiar o diagnóstico de crimes de várias naturezas. Igualmente significativa é a presença de nossos doutores na eficiente pesquisa na EMBRAPA. Aponto tais exemplos para justificar o crescimento da pós-graduação da ordem de 12% ao ano, seja em matrículas, seja em cursos novos, garantidas as exigências de qualidade da qual a Capes não abre mão.

No que diz respeito às ações inovadoras, vemos como necessária a parceria com outros segmentos, como o componente fundamental, pois o crescimento de 12% ao ano na pós-graduação é incompatível com a capacidade do governo de fazer crescer, na mesma proporção, o número de bolsas. Assim, as parcerias com as fundações estaduais são inevitáveis. A FAPERJ é um bom exemplo disso, pois fizemos várias parcerias nos últimos anos e vamos continuar fazendo outras. Aliás, temos feito parcerias com praticamente todos os estados que têm fundações estaduais operantes. Este é, na verdade um bom modelo. Temos também parcerias com ministérios, para a indução de programas de pós-graduação e de temas de pesquisa que tenham interesse do estado com foco na formação de recursos humanos. Nesse sentido, fizemos ações especificas na área de engenharias, TV digital, educação propriamente dita através dos observatórios da educação e da Escola de Altos Estudos. Também no exterior temos ações de inovações, como o colégio doutoral com a França, e outras específicas, com Espanha, Holanda, Canadá, Estados Unidos, Alemanha, Portugal e com varias instituições do mundo. inteiro, universidades e órgãos semelhantes à Capes e outros órgãos de fomento, e mais recentemente o colégio doutoral com a Argentina, onde também temos vários outros programas de cooperação.

São ações inovadoras que a Capes põe em curso para enfrentar a demanda de recursos humanos que, apesar dos nossos extraordinários avanços, está muito distante de atender aos grandes desafios e potencialidades que o Brasil apresenta para o seu pleno desenvolvimento em temas dependentes das áreas educacional, cientifica e tecnológica.

Rio Pesquisa – A Capes implantou Programas de bolsas compartilhadas com as FAPs e com outras Instituições. Qual a importância e futuro destes Programas? Como a Capes poderia incentivar, em conjunto com as FAPs, os Programas de Pós-Graduação dos Estados?

Jorge Guimarães – Fizemos vários acordos, convênios e apoios em parceria com as FAPs, pois sabemos que este é um modelo importante para reforçar a formação de recursos humanos. Em algumas FAPs, funcionou bem, mas em outras não, e estamos reestudando o modelo. Basicamente, a maior dificuldade surgiu porque a Capes repassou os recursos e alguns governos estaduais fizeram caixa único, incluindo os recursos da Capes, inclusive daquela parte destinada ao pagamento de bolsistas. Por conta disso, nas novas parecerias, os bolsistas serão pagos diretamente pela Capes.

Obviamente a ação conjunta com as FAPs é natural e óbvia, porque os mestres e doutores, ou seja os técnicos formados na pós-graduação, servem primeira e basicamente ao próprio estado e, portanto, é de se esperar que os estados tenham uma ação mais concreta na participação do financiamento da formação de recursos humanos nos cursos localizados na sua jurisdição. Isto tem crescido muito lentamente, mas existe expectativa grande de que as FAPs venham assumir um pouco mais essa participação. De fato, quando fazemos esses acordos, a Capes não impõe nenhuma prioridade para os estados; quem impõe as prioridades são as FAPs. Aceitamos as prioridades e saímos com ações conjuntas. Esperamos dar continuidade ao modelo de acordo, avançando para novos desafios que as próprias fundações estaduais podem trazer.

Atualmente estamos vislumbrando modelos de formação, especialmente de doutores que possam servir às instituições acadêmicas e aos centros de pesquisa em um formato mais induzido. Quero dizer com isto que vislumbramos acoplar ao doutorado, o doutorado sanduíche e o pós-doutorado, num único processo de financiamento para formação induzida de recursos humanos capazes de acelerar tanto a renovação como a capacitação de pessoal dos centros de pesquisa.

Rio Pesquisa – A Capes lançou recentemente, em parceria com o CNPq, o Programa Nacional de Pós-Doutorado (PNPD). Como o senhor espera que esse programa afete o sistema de C&T e os programas de pós-graduação? Nessa ação, o senhor considera válido se pensar em parcerias com a Capes?

Jorge Guimarães – Assinamos e lançamos o edital para o PNPD com bastante foco na política industrial, embora não seja exclusivamente esse o segmento qualificado como receptores desses pós-doutores. Incluem-se também, além de empresas, projetos de universidades com empresas e projetos com organizações não-governamentais ou centros de pesquisa que tenham foco na ciência e tecnologia. Podem também se candidatar pesquisadores do CNPq e, obviamente, na Capes, os cursos de pós-graduação. Abre-se, assim, um enorme espaço de atuar com outros parceiros. Considero que o PNPD permite vários modelos de parcerias.

Uma possível mudança de formato será torná-lo funcional, de fluxo contínuo, embora nessa primeira versão tenha sido feito como edital, com data fixada. O ideal, no entanto, é que ele seja mesmo de fluxo contínuo, da maneira que possamos ter um processo mais rápido e imediato de absorção de novos doutores que o sistema vai formando. Isso será importante para acoplar o doutorado ao PNPD, como mencionado anteriormente.

Podemos fazer isso em parceria com outras instituições e acho que com as FAPs seria um modelo sensacional. Se a FAPERJ quiser, podemos discutir um modelo desses, logo, logo.

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