Roni Filgueiras
Uma mulher moura que se transforma em serpente e deixa um rastro na rocha que deu origem à Bicha Pintada, formação de quartzito armoricano que ocorre em Portugal. Um mito dos índios sioux fala das primeiras criaturas, insetos e répteis, que devoraram todas as outras, lenda reforçada por fósseis em rochas cretácicas nas High Plains, Estados Unidos. E a marca deixada por Hércules num rochedo, num local onde hoje fica a Rússia. Estes e outros relatos provam como o misticismo se funde com a icnologia área da paleontologia que estuda as evidências do metabolismo, fisiologia ou quaisquer registros e impressões deixados por organismos vivos e preservados nas rochas. E que compõem um dos capítulos (“Rastros da imaginação: icnofósseis e folclore”) da nova publicação da Série Textos da Sociedade Brasileira de Geologia, Icnologia, com lançamento previsto para 7 de março, sexta-feira, Dia do Paleontólogo, no Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Ilha do Fundão.
Numa série de artigos, ilustrados em preto-e-branco, Icnologia sana em parte a deficiência de títulos na área. “Não existe em língua portuguesa nenhum texto que reúna todas as questões apresentadas neste livro”, conta Ismar de Souza Carvalho, paleontólogo da UFRJ, que juntamente com Antonio Carlos Sequeira Fernandes, assina a edição e um capítulo da publicação. ”O livro reúne as informações mais atualizadas acerca do estudo dos icnofósseis e de suas aplicações”, diz Ismar. “Além do caráter introdutório a esta ciência, também possibilita seu uso no âmbito aplicado da interpretação paleoambiental, por meio da associação com metodologias modernas de estudos geológicos.” Com tiragem de três mil exemplares, Icnologia se destina essencialmente a profissionais da área, que tenham interesse específico para a interpretação paleoambiental. Em seus 15 capítulos são abordados conceitos gerais dos icnofósseis, os métodos de estudo, a aplicação na estratigrafia (área da geologia que estuda as camadas ou os estratos evidenciados num corte geológico) de alta resolução, a diversidade dos icnofósseis nos diferentes ambientes e aspectos da paleofisiologia e da bioerosão.
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Livro Icnologia: os 15 capítulos são ilustrados em preto-e-branco |
O capítulo Rastros da imaginação: icnofósseis e folclore analisa ainda a importância desta área da paleontologia para a cultura e o imaginário popular no país. “Consideramos que a associação de pegadas de dinossauros com petroglifos indígenas seja uma percepção de sua existência pelos antigos povos da floresta. Provavelmente associavam as pegadas com locais de caça devido à semelhança com os pés das aves. Ainda hoje isto pode ser verificado por meio dos nomes das localidades onde ocorrem, como Passagem das Pedras, Rastro das Emas”.
Ana Paula Oliveira de Aguiar, Antonio Carlos Sequeira Fernandes, Carmem Lúcia Martini da Rosa, Cláudia Maria Magalhães Ribeiro, Daniela Blazutti, Egberto Pereira, Fátima Andréia de Freitas-Brazil, Hilda Leonor Cuevas de Azevedo-Soares e Ismar de Souza Carvalho são alguns dos autores de Icnologia. Jorge Ferigolo, Marcelo Adorna Fernandes, Marco Aurélio Vicalvi, Maria Célia Elias Senra, Mariano Verde, Mitsuru Arai, Paulo Roberto de Figueiredo Souto, Rafael Costa da Silva, Renata Guimarães Netto, Sara Nascimento e Sonia Agostinho completam o time de especialistas do título.
Segundo Ismar de Souza Carvalho, o fomento às pesquisas desenvolvidas por geocientistas do estado e apoiados pela FAPERJ por meio de projetos individuais ou pelo programa Cientistas do Nosso Estado possibilitou a realização de Icnologia, que dá ênfase aos icnofósseis encontrados nas bacias sedimentares brasileiras. No lançamento, a venda do livro será promocional (R$ 40) para associados da SBGeo e entidades afiliadas. O livro também pode ser comprado diretamente na Sociedade Brasileira de Geologia, pelo site http://www.sbgeo.org.br
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