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Publicado em: 14/09/2003
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Pesquisadores estressados

Os pesquisadores brasileiros estão estressados. Estudo realizado com cientistas do Departamento de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro mostrou que a crescente pressão para publicar artigos e a redução, desde 1996, de mais de 70% dos investimentos em ciência e tecnologia no Brasil está levando os cientistas a uma competição exagerada, o que não é saudável.

Conduzida com apoio da Faperj pelo professor Leopoldo De Meis, a psicóloga Maria Scarlet do Carmo (ambos do próprio departamento estudado) e a psiquiatra Carla de Meis (Instituto de Psiquiatria/UFRJ), a pesquisa mostrou a que custo a ciência brasileira está melhorando: jornadas de 14 horas diárias e o pensamento voltado exclusivamente para o trabalho - em especial a produção de artigos para publicação em periódicos estrangeiros, tida como condição sine qua non para a obtenção de apoio financeiro junto às agências governamentais de fomento.

 

“Entrevistamos estudantes de pós-graduação, pós-doutores e professores do departamento sobre suas preocupações. Uma visão típica dos estudantes de pós-graduação a respeito dos acadêmicos foi: ‘Eles devem ser loucos. Vivem, comem e provavelmente vão morrer no laboratório. Chegam às oito da manhã e nunca saem antes das dez da noite. Por que você acha que eles se casam entre si?’”, escreveu De Meis em carta publicada na revista Nature. De fato, há 13 casais num grupo de 39 pesquisadores do departamento.

 

Para o presidente da Faperj, Marcos Cavalcanti, a pesquisa mostra que os pesquisadores são simples mortais, iguais a qualquer cidadão em qualquer atividade.

O estudo descobriu que neste meio as pessoas se avaliam como cientistas de alto ou baixo impacto pelo número de publicações e não pelo trabalho em si, apresentado numa tese de doutorado, por exemplo. Além disso, só a publicação em revistas estrangeiras é valorizada. Artigos em revistas nacionais são menosprezados.

 

De acordo com os entrevistados, submeter um paper evoca emoções fortes: “Quando a revista não aceita, você sente que não foi só o paper que foi rejeitado, mas você mesmo”; “É um sentimento ótimo quando um paper é aceito, já que você sabe que o de tantas pessoas foi recusado.”

 

Segundo os entrevistados, a ansiedade sobre a aprovação de projetos de pesquisa é enorme. Eles acham que se pararem de publicar, perderão o apoio e serão ejetados pelo sistema. “Não importa o que você fez no passado. Só vale o que você fez nos últimos dois ou três anos”, disse um dos entrevistados.

 

Segundo De Meis, a legitimação em si nunca acontece e a dificuldade de conseguir e manter a verba aumenta à medida que se avança na carreira. “A idéia de uma carreira contínua e estável está nebulosa. As pessoas estão constantemente em transição, tendo que provar sua capacidade para continuarem no sistema”, afirma.

 

Em artigo publicado no Brazilian Journal of  Medical  and Biological Research, De Meis afirma que a pressão de publicação está levando a um grau de competitividade exagerado e  propagando uma distorção cultural onde a cientométrica prevalece sobre o conhecimento e onde o sofrimento mental é proporcional à falta de recursos.

 

“Um cenário futuro possível é que cientistas larguem a academia e novos talentos sejam desencorajados de aderir à carreira acadêmica. A combinação desses dois fatores pode levar a um declínio da ciência brasileira. Se este padrão não for mudado num futuro próximo, a ciência brasileira pode ir do crescimento ao declínio sem jamais ter atingido todo seu potencial”, concluiu.

 

Leia a íntegra da pesquisa em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-879X2003000900001&lng=en&nrm=iso&tlng=en

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