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Publicado em: 27/12/2007
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Nova substância se mostra eficaz contra certos tipos de câncer

Vilma Homero

Vinicius Zepeda

     

    Ribeiro Costa e equipe criaram substância eficaz
  contra células tumorais e inofensiva para as sadias

Testes feitos em células frescas de pacientes em tratamento no Instituto Nacional do Câncer (Inca) repetiram os resultados já revelados em cultura de células. Uma nova substância, sintetizada no Laboratório de Química Bioorgânica (LBQ) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, tem se mostrado altamente eficaz em eliminar células leucêmicas, particularmente aquelas resistentes a diversos medicamentos – as chamadas linhagens MDR, do inglês Multi Drug Resistance. Como conseqüência do desenvolvimento dessas linhagens, muitos pacientes não apresentam mais resposta a quimioterápicos de uso corrente na clínica médica, fenômeno que é o maior responsável pelos casos de insucesso terapêutico. A LQB 118 – como foi denominada a nova substância – também revelou-se biosseletiva, ou seja, sem toxicidade   significativa para os linfócitos e mostrou resultado igualmente bem-sucedido em cultura de células tumorais de pulmão – um dos cânceres mais difíceis de tratar. “A maior vantagem é que, mesmo em altas concentrações, a substância não mata as células sadias”, comemora o professor Paulo Roberto Ribeiro Costa, do LBQ.
 
Como passo seguinte, a LQB 118 foi testada em camundongos sadios pela equipe da professora Vivian Rumjanek, no Instituto de Bioquímica Médica, contemplada pelo edital Pensa Rio, da FAPERJ. Nestes experimentos, a substância demonstrou diversas vantagens: não apresentou toxicidade para a medula óssea, não afetou o comportamento e o peso dos animais, e também não causou a queda de pêlos, efeitos colaterais muito comuns nos quimioterápicos, que fazem com que o paciente, já debilitado pela doença, tenha as defesas do organismo ainda mais reduzidas. Se os resultados também forem positivos nos camundongos com leucemia, como acreditam os pesquisadores, a toxicidade da LBQ 118 será estudada em maior profundidade e, a depender desses estudos, poderá ser testada em humanos – pacientes terminais para quem ela pode significar uma expectativa de sobrevida. Além disso, um novo processo, possibilitará o barateamento e sua produção em grandes quantidades.

A descoberta, cujos resultados preliminares foram publicados em artigo na revista européia Biorganic & Medicinal Chemistry, realmente pode representar uma esperança na luta contra alguns tipos de câncer. “Mas temos que ter em mente que, da mesma forma que um parasita se adapta e cria resistência aos fármacos usados para eliminá-lo, o mesmo acontece com as células tumorais. Por isso, é preciso estar sempre renovando o arsenal de quimioterápicos”, explica o professor. Ribeiro Costa é Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ, desde a criação do programa, e sua pesquisa já contou com vários apoios da Fundação – desde o primeiro Pronex, em 1998, ao atual CNE, de 2007 – e também com recursos do CNPq e da Finep. Ele é um dos mais de cem pesquisadores que participam do Programa de Oncobiologia da UFRJ, uma rede integrada por instituições como UFRJ, Inca, Uerj e UFF, que desenvolvem cerca de 27 temáticas de pesquisa em câncer no Rio de Janeiro.

O grupo de Ribeiro Costa foi o responsável pelos estudos que, a partir da estrutura do lapachol – uma substância presente no ipê (árvore do gênero Tabebuia) e usada na medicina popular – conduziram à síntese de um derivado bem mais eficaz do que o produto natural. Explica-se: o lapachol, que já foi usado em clínica, não é capaz de matar as células de linhagens MDR. “No laboratório, conseguimos chegar a uma substância parecida, mas de estrutura modificada que nos permitiu aperfeiçoar e ampliar os efeitos do lapachol”, diz o pesquisador. A equipe voltou-se especialmente para as alterações estruturais que levassem a substâncias capazes de eliminar as células tumorais resistentes a múltiplos fármacos (as já mencionadas linhagens MDR).

“É importante destacar que estes trabalhos vêm sendo desenvolvidos por estudantes de pós-graduação”, enfatiza Ribeiro Costa. A nova substância foi preparada no ano passado pelo doutorando Chaquip D. Netto, autor da tese orientada em parceria com o professor Alcides J. M. da Silva, que junto com Ribeiro Costa é o responsável pela parte química do projeto. Por outro lado, os ensaios de citotoxicidade vêm sendo realizados por Eduardo S. J. Santos, mestrando no laboratório da professora Vivian Rumjanek.

Voltadas para um outro foco, as pesquisas também estão sendo bem-sucedidas. “Como há um cruzamento entre substâncias com ação anticancerígena e antiparasitária, estamos testando a eficácia do LQB 118 contra a leishmaniose, o que tem sido feito pelo médico Eduardo Caio T. Santos, da Fiocruz e a professora Bartira R. Bergmann, do Instituto de Biofísica da UFRJ. Em camundongos vitimados pela forma cutânea da doença, houve reversão total das lesões e cura completa em 40 dias de tratamento, sem qualquer efeito tóxico evidente. Isso é particularmente animador, já que a leishmaniose é endêmica no país”, fala Ribeiro Costa.    

A LQB 118 é fruto dos estudos do Programa de Oncobiologia da UFRJ. Criado há seis anos, ele se constitui numa rede de pesquisa contra o câncer. Coordenado pelo cirurgião, ex-diretor do Inca e atual presidente da Fundação Ary Frauzino para a Pesquisa e Controle do Câncer, Marcos Moraes, o programa reúne trabalhos de diferentes equipes, empenhados em linhas de pesquisa que investigam uma diversidade de tumores, que variam dos localizados na próstata, na tireóide, nos rins e colo de útero, entre outros. Alguns grupos estudam ainda neoplasias em modelos animais; a associação entre aneuploidia (número alterado de cromossomos), câncer e diferenciação de células-tronco; e os mecanismos de atuação dos novos quimioterápicos. Segundo Ribeiro Costa, a participação no programa tem sido enormemente enriquecedora. “Imagine um químico orgânico participando de estudos em oncologia. Essa multidisciplinaridade nos permite aprender sobre áreas diferentes. Todos só temos a ganhar.”

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