O seu browser não suporta Javascript!
Você está em: Página Inicial > Comunicação > Arquivo de Notícias > Livro discute a estética e a herança moderna de Burle Marx
Publicado em: 29/11/2007
ATENÇÃO: Você está acessando o site antigo da FAPERJ, as informações contidas aqui podem estar desatualizadas. Acesse o novo site em www.faperj.br

Livro discute a estética e a herança moderna de Burle Marx

Roni Filgueiras


Fotos de divulgação 

 

  Parque do Flamengo, principal
 criação do paisagista Burle Marx

"Detesto essa idéia de que o paisagista só deve conhecer plantas", declarou um já idoso Burle Marx, durante uma entrevista, dada no Rio, em 1992. E completa: "Ele tem que saber o que é um Piero de la Francesca, mas também compreender o que é um Miró, um Michelangelo, um Picasso, um Braque, um Léger. Aceitar a fórmula é inviabilizar a capacidade de pensar. Eu as detesto sim, continuo a dizer, pois a fórmula é repetitiva, é como um beco sem saída", protestava o mestre em outro trecho da entrevista concedida à paisagista Ana Rosa de Oliveira, publicada originalmente na revista eletrônica Vitruvius. Ana Rosa volta ao mestre, sua estética e sua herança moderna pouco assimiladas para discutir estes e outros temas, como os caminhos do paisagismo na atualidade, em seu novo livro Tantas vezes paisagem. A doutora em arquitetura do paisagismo pela Universidade de Valladolid, lança o livro no próximo dia 11 de dezembro, às 18h30, na Fundação Casa de Rui Barbosa (Rua São Clemente, 134, Botafogo).

"A idéia do livro surgiu da vontade de conhecer melhor a obra de Burle Marx e pesquisar sobre seu método e formação", diz Ana Rosa. "Eu já estava em Barcelona, Espanha, para cursar o doutorado quando senti falta de uma fonte direta. Existiam livros elogiosos, mas sem rigor analítico. Burle Marx escreveu pouco sobre sua obra, e normalmente enfatizava a importância de sua formação botânica como paisagista, em detrimento de sua formação artística", esclarece. Hoje, ela frisa, já há uma bibliografia mais extensa, ao contrário da época de seus estudos no exterior, nos anos 90.

Ana Rosa não se detém apenas nos aspectos históricos da influência do modernismo nesta obra, que reúne também entrevistas com vários profissionais e teóricos do assunto no país e no mundo. Tantas vezes paisagem", editado com verbas da APQ3 (Apoio à Editoração) da FAPERJ, é dividido em três capítulos. O primeiro, dedicado a Burle Marx; o segundo é uma longa entrevista sobre o pensamento e a obra do arquiteto espanhol Hélio Piñon; e o terceiro, uma coletânea de textos sobre questões diversas do paisagismo na atualidade.

    
  Burle Marx orienta ajudante em seu ateliê
A pesquisadora entrevistou também profissionais ligados ao mestre, como Lúcio Costa, que ela considera o primeiro articulador de Burle Marx com a arquitetura moderna. "Ele o introduziu nos grandes projetos arquitetônicos da época", diz. E também conversa com o arquiteto Fernando Tábora, sócio do paisagista, entre 1955 e 1964, que desempenhou um papel fundamental na sua obra. Tábora, assim como Maurício Monte, Júlio Pessolani, John Stoddart, fazia parte da empresa Burle Marx e Arquitetos Associados. Ana Rosa resgata a memória desses anos porque, segundo ela, a importância da produção do grupo é pouco divulgada e conhecida.

Ela se debruça com mais atenção sobre o que considera a obra mais importante de Burle Marx: o Parque do Flamengo. Projeto coordenado por Lota Macedo Soares, na época do governo estadual de Carlos Lacerda, nos anos 1960, o Parque do Flamengo, segundo a pesquisadora vem sofrendo contínuas e graves intervenções que têm descaracterizado o projeto original, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. "O Aterro é um momento de revelação, em que Burle Marx atinge sua maturidade e originalidade", diz Ana Rosa. Segundo ela, o que se cristalizou foi "uma ênfase somente no uso da vegetação brasileira, mas o projeto introduz muitas espécies exóticas adaptadas", revela.
 
Mas o projeto visionário de Lota Macedo Soares, tombado por sua iniciativa, vem sofrendo vários ataques. O último, segundo Ana Rosa, foi o projeto de revitalização da Marina da Glória, iniciado com o Pan 2007, quando a prefeitura deu o aval para a construção de uma garagem náutica na Marina da Glória; a transformação da área de piqueniques em estacionamento e o fechamento com tapume de cerca de 10% da área do parque. A obra foi embargada pela Justiça, mas a prefeitura e a Empresa Brasileira de Terraplenagem e Engenharia não retiraram os tapumes, nem fizeram medidas reparatórias para devolver a área de piqueniques à população. "Além da ameaça a este grande projeto, o Parque do Flamengo vem, ao longo dos últimos anos, sofrendo outras sistemáticas modificações, como construção de postos de salvamento, estacionamentos, quiosques, além de ter seu uso original como parque desvirtuado com a realização de infindáveis eventos, como shows, eventos, corridas de carros, exposições etc", alerta a pesquisadora.

Ana Rosa também denuncia o que considera um retrocesso na tradição paisagística moderna brasileira. "De modo geral, houve uma perda de uma boa tradição no paisagismo", aponta. "Vê-se muitos jardins resgatando estilos ultrapassados, com topiarias, pouca ênfase às espécies nativas. Foi como na arquitetura, com o pós-modernismo, houve uma vulgarização do paisagismo."

Tantas vezes paisagem também debate o rumo do ensino do paisagismo no país. "Na França, Alemanha e Estados Unidos, há cursos de graduação em arquitetura paisagística e aqui, com raras exceções como na Escola Nacional de Belas Arets da UFRJ, Universidade Veiga de Almeida, na Barra, a formação é complementar, ou seja, o arquiteto, o agrônomo, o engenheiro florestal têm que completar sua formação para se tornarem paisagistas", esclarece. "O material agrupado no livro também trata de apresentar subsídios e fomentar um processo de reflexão sobre campos do conhecimento particularmente deficitários, como a produção paisagística contemporânea brasileira, sua historiografia, a estética moderna, o projeto e em paisagismo; a conservação da diversidade biológica e a salvaguarda da paisagem percebida como um legado coletivo", explica a autora.

Os próximos projetos da pesquisadora incluem um livro-inventário, ainda sem título, sobre jardins privados e públicos de Burle Marx, com lançamento previsto para 2009, ano do centenário do criador do Parque do Flamengo; a tradução de Idéias e formas", livro espanhol, que reúne entrevistas com o arquiteto espanhol Hélio Piñon, previsto para 2008; e uma obra sobre a construção da paisagem do Jardim Botânico no século XIX, também com lançamento agendado para o próximo ano.

Compartilhar: Compartilhar no FaceBook Tweetar Email
  FAPERJ - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
Av. Erasmo Braga 118 - 6º andar - Centro - Rio de Janeiro - RJ - Cep: 20.020-000 - Tel: (21) 2333-2000 - Fax: (21) 2332-6611

Página Inicial | Mapa do site | Central de Atendimento | Créditos | Dúvidas frequentes