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Publicado em: 08/11/2007
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Armas de clorofila contra inimigos poluentes

Roni Filgueiras

 

Divulgação

     
   Capa do livro: clima do país
  favorece tecnologia emergente

A sustentabilidade ambiental e o futuro do planeta estão na ordem do dia. Mas como tornar esta questão vital uma opção viável economicamente e fazer com que ela se desdobre em políticas públicas e ações de empresas preocupadas com a responsabilidade social? Algumas dessas respostas estão em Fitorremediação – O uso de plantas no controle da poluição, de Cláudio Fernando Mahler, Julio César da Matta e Andrade e Silvio Roberto de Lucena Tavares. A obra editada pela Oficina de Textos trata da fitorremediação, uma tecnologia emergente que usa plantas e seus microrganismos associados para regenerar solo, água ou ar contaminados.

 

A técnica aplica-se no tratamento de áreas extensas afetadas por largo espectro de poluentes orgânicos e inorgânicos. Algumas das vantagens estão no baixíssimo custo e no aporte econômico resultante da produção de madeira, forrageiras ou de outros produtos vegetais que, ao mesmo tempo que promovem a descontaminação, agregam valor por portar estas mesmas substâncias, que futuramente podem ser reaplicadas em outros setores produtivos. De forma didática, o livro apresenta uma introdução ao tema com definições, conceitos e princípios dos mecanismos técnicos mais usados. Na segunda parte, a publicação reúne estudos de casos que mostram as principais experiências no país e no exterior. São tratados ainda os 12 pesticidas banidos dentro e fora do Brasil, que ainda constituem passivos ambientais.

 

A tecnologia pode remediar vários contaminantes, como sais, metais, pesticidas e hidrocarbonetos de petróleo, às vezes, simultaneamente. O lançamento de Fitorremediação: o uso de plantas no controle da poluição será no dia 30 de novembro, às 18h, na livraria do Museu da República (Rua do Catete, 153, Catete), durante a Primavera dos Livros, no Rio de Janeiro. Na ocasião, os autores darão uma palestra sobre fitorremediação. 

Cláudio Fernando Mahler, engenheiro civil e doutor em Geotecnia pela Coppe/UFRJ e livre docente em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP, desde janeiro acumula a função de diretor de Administração e Finanças da FAPERJ. Leia, a seguir, a entrevista com os autores, que falam da aplicabilidade da técnica, as vantagens financeiras e a disseminação de seu uso cada vez maior no Brasil, onde a técnica encontrou solo fértil, e no exterior:

Boletim da FAPERJ – O livro "Fitorremediação – O uso de plantas no controle da poluição", de sua autoria e de Julio Andrade e Silvio Tavares, trata de um tema que é manchete dos jornais quase diariamente: o meio ambiente e as fontes de poluição. Qual a importância de se abordar o tema da fitorremediação?

Cláudio Fernando Mahler – A fitorremediação é uma técnica de grande versatilidade, que visa a melhoria da qualidade do ar, da água e do solo, por meio da extração ou da redução da mobilidade de substâncias nocivas ao ambiente. Esta versatilidade permite seu uso como principal forma de remediação ou em combinação com outras técnicas, sendo especialmente valiosa quando a concentração do contaminante já foi reduzida por outras técnicas em outras etapas. Assim, estando a concentração do poluente em níveis aceitáveis para cultivo vegetal, as plantas são usadas para redução da concentração do contaminante até níveis ambientalmente seguros, conforme determinação de análise de risco.

 

Boletim da FAPERJ – E isso depende de que condições prévias? Há vantagem financeira?

Cláudio Fernando Mahler – Seu uso depende de condições ambientais específicas, mas em algumas situações apresenta-se amplamente vantajoso do ponto de vista ambiental e financeiro, motivo pelo qual vem rapidamente se expandindo em diversos países. Neste sentido, apresenta grande perspectiva de desenvolvimento no Brasil, pois o clima tropical possibilita o cultivo vegetal durante praticamente todo o ano, além do que, propicia a ocorrência de grandes taxas de fotoconversão, alta atividade microorgânica e elevada fitotranspiração média. Tudo isto pode facilitar o uso de processos de fitorremediação, sendo possível atingir o objetivo com maior velocidade do que, por exemplo, em cultivo efetuado em clima temperado.

 

Boletim da FAPERJ – Isso quer dizer que o país apresenta vantagens em aplicar a técnica?

Julio César da Matta – O país detém biomas riquíssimos, com grande fenogenótipos a serem testados e de genótipos passíveis de serem incorporados por meio de cruzamentos e/ou de engenharia genética. Existe assim farto material para melhoramento ou mesmo para formação de novas espécies fitorremediadoras. Além disso, o Brasil possui enorme diversidade de microorganismos de solos, o que favorece o estudo e desenvolvimento voltado para as mais diversas aplicações na remediação ambiental. As possibilidades incluem o desenvolvimento de microorganismos capazes de desenvolverem relações de mutualismo com plantas, o que estimula o aumento da eficácia do processo.

 

Boletim da FAPERJ – Quais as vantagens de se estimular a fitorremediação para recuperar áreas degradadas?

Julio César da Matta – A fitorremediação é uma técnica geralmente usada in-situ (sem escavação), que usa energia solar, limita as perturbações ao meio ambiente e tem um custo muito reduzido quando comparado às outras formas de remediação. Pode ser usada no tratamento de grandes áreas contaminadas em que outras técnicas seriam economicamente inviáveis. Pode decorrer na produção de madeira, forrageiras ou de outros produtos vegetais que agregam algum valor econômico. Geralmente também ocorre a melhoria visual da paisagem, o que facilita a aceitação da técnica pelas populações. Agrega-se a esta vantagem, o fato de que cultivos vegetais de longa duração podem criar valiosos nichos ecológicos, o que é particularmente importante em áreas industriais urbanas. A fitorremediação também apresenta a vantagem de poder remediar vários contaminantes simultaneamente, incluindo sais, metais, pesticidas, e hidrocarbonetos de petróleo.

 

Boletim da FAPERJ – O senhor menciona em seu livro o uso da biomassa de plantas que extraem determinadas substâncias como um meio de transportar estas mesmas substâncias para outras áreas e, assim, serem reaproveitadas de forma ecológica. 

Cláudio Fernando Mahler – Por exemplo, biomassa contendo selênio (Se), um nutriente essencial, tem sido transportada para áreas deficientes desse mineral e usada para complementar a alimentação animal. Outro importante aspecto ocorre em relação à fitorremediação de compostos orgânicos que podem ser degradados a CO2 e H2O. Neste caso, o uso da tecnologia pode decorrer na degradação do contaminante, não havendo a necessidade de retirada das plantas fitorremediadoras da área contaminada. Como benefícios indiretos podem ser citados a melhoria da qualidade do solo com o aumento da porosidade e conseqüente infiltração de água, fornecendo e acelerando a ciclagem de nutrientes e aumentando a quantidade de carbono orgânico. O uso da técnica também estabiliza o solo. Além do mais, pode-se adicionar grandes quantidades de nitrogênio atmosférico no solo, quando se usa nos programas de remediação do solo espécies que realizem simbiose eficiente com bactérias fixadoras de nitrogênio.

 

Boletim da FAPERJ – Fale a respeito de outros benefícios da fitorremediação.

Cláudio Fernando Mahler – O processo também não usa nenhum tipo de motor ou bomba, evitando a emissão de monóxido de carbono e ruídos. Outro benefício indireto é que o cultivo das plantas tolerantes a contaminantes cria condições que beneficiam o crescimento de outras, inclusive favorecendo o desenvolvimento de plantas menos tolerantes às substâncias tóxicas. Outra vantagem importante é que, em grande parte dos casos, a técnica se beneficia por empregar os mesmos equipamentos e insumos da agricultura e da agrossilvicultura convencional. Desta forma, a aplicação é facilitada pela fácil aquisição e pelo menor custo de equipamentos e insumos produzidos em escala industrial. Além disto, existe maior facilidade no treinamento de operadores de máquinas e operários, da técnica em campo, com similaridade com as atividades agrossilviculturais.

 

Boletim da FAPERJ – Para ilustrar, no caso da Floresta Amazônica, ameaçada por queimadas, e das praias cariocas, poluídas por dejetos, o que poderia ser feito?

Silvio Roberto de Lucena Tavares O foco principal da fitorremediação não é a recomposição de áreas devastadas, sendo principalmente o de retirar ou imobilizar poluentes reduzindo danos ao ambiente. Neste sentido, os vegetais superiores podem ser empregados no tratamento de águas contaminadas, como o esgoto doméstico, mas o tratamento depende do estabelecimento de lagoas e de plantas rizofiltrantes, o que demanda áreas grandes. Em relação ao aporte de dejetos no Rio, poderia ser usada em alguns condomínios, mas sua viabilidade é restrita. No caso carioca, a melhoria da qualidade ambiental está muito mais ligada a coleta e ao correto tratamento dos efluentes domésticos antes de seu aporte nos corpos hídricos.

 

Boletim da FAPERJ – No caso de madeiras que acumulam metais no tronco e são usadas na construção civil isso não traria algum risco às pessoas que as manuseiam ou as que permaneceriam expostas permanentemente?

Silvio Roberto de Lucena Tavares – Este risco não existiria, pois quando o vegetal incorpora o metal fica indisponível a absorção por contato. Entretanto, quando o vegetal é usado na alimentação animal ou humana é recomendável que sejam adotados certos cuidados, especialmente quando a remediação ocorre em sítios contaminados com substâncias passíveis de bioacúmulo/ biomagnificação.

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