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Publicado em: 30/08/2007
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Pesquisa mostra a existência de quilombolas em Búzios

Vinicius Zepeda

Divulgação 

 
 Moradora da Comunidade
  de Rasa na feira agrícola
Armação dos Búzios, cidade da Costa do Sol fluminense, é famosa por sua vocação turística, belas praias e a badalação noturna dos bares e butiques da Rua das Pedras. Mas pouca gente conhece uma outra riqueza da charmosa península: a Comunidade de Rasa, localizada próxima à praia de mesmo nome. O local reúne, entre seus moradores, quilombolas remanescentes de uma comunidade criada por escravos e descendentes que mantiveram vivas, ao longo do tempo, algumas das principais tradições da cultura africana. Parte da riqueza cultural e histórica da região da Rasa, a comunidade foi aos poucos excluída, e, com o tempo, acabou perdendo parte importante de suas raízes. Até os próprios moradores de lá já não mantinham vivas as memórias de seus antepassados, viviam à margem da sociedade e alijados da rota econômica e turística de Búzios. Uma pesquisa apoiada pelo edital Direitos Humanos e Cidadania da FAPERJ e desenvolvida pela professora do Departamento de Psicologia da UVA (Universidade Veiga de Almeida), Carmen Rodrigues Tatsch, procurou resgatar a memória do local junto aos próprios moradores a fim de propor alternativas para melhorar a qualidade de vida e o bem-estar social e econômico de seus habitantes.

Direitos Humanos e Desenvolvimento Humano e Social, que está concluída e se encontra em fase de prestação de contas, é o desdobramento de outro trabalho, também apoiado pela FAPERJ através do programa de fixação de pesquisador, e que foi desenvolvido entre os anos de 2001 e 2003. A pesquisa, coordenada por Carmen Tatsch, estava vinculada à Escola de Comunicação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), onde ela se formou e concluiu o mestrado em psicologia social e o doutorado em saúde mental. Na primeira fase do trabalho, foi feito um mapeamento da Comunidade de Rasa por meio de um levantamento histórico da cultura através de um vídeo da região produzido com o apoio dos moradores e lideranças comunitárias. No material, foi constatado que, historicamente, a população sobrevivia da agricultura familiar, da pesca e do artesanato. Porém, essas práticas estavam em dissolução. A falta de intercâmbio cultural e organização da população fazia com que os próprios moradores desconhecessem o potencial e a riqueza de seu povo.

De acordo com a psicóloga e professora da UVA, a situação começou a mudar a partir do desenvolvimento da pesquisa. Para a realização do vídeo, houve vários debates e reuniões com as principais lideranças comunitárias. Em conseqüência, foi realizado em 2003, numa escola municipal de Rasa conhecida como escola do Mudinho (uma menção a um artesão local), o 1 Seminário Internacional de Comunicação Visual e Antropologia Cultural, que também contou com o apoio da FAPERJ. "No evento, a população expôs sua história e cultura. Eles puderam ser vistos e se viram ali. A partir deste movimento, os moradores resolveram se organizar e criar uma feira de produtos agrícolas que passou a funcionar aos sábados, no centro de Búzios. Além disso, Lelei, um dos artesãos da comunidade, reativou a Associação de Arte e Cultura e recriou uma oficina de artesanato em talho em madeira que estava parada, passando a ensinar aos jovens a sua arte", recorda Carmen.

Divulgação
 

No 1 Seminário Internacional, os 
jovens da Rasa dançam capoeira
 

Além das lideranças comunitárias da Rasa, o seminário reuniu professores de universidades italianas e brasileiras e de escolas de Búzios. A partir de uma visita à região, guiada por lideranças de cada área (história, ecologia e antropologia) surgiu a idéia de se criar um circuito turístico alternativo na Comunidade de Rasa que servisse para contar sua história e sua cultura. "As pessoas desconheciam e não queriam saber o que faziam os habitantes do local. A divulgação dos eventos promovidos pela pesquisa fez com que empresários e moradores de toda a cidade se interessassem pelas questões da região. Em 2003, alguns empresários apoiaram a participação de lideranças comunitárias do Fórum Social Mundial, na cidade de Porto Alegre", conta Carmen. "Após tudo isso, a mídia da cidade de Búzios reconheceu a importância da Comunidade de Rasa e veiculou diversas matérias nos principais jornais da região", acrescenta.

Carmen lembra que Lelei foi uma das lideranças que surgiram no decorrer de sua pesquisa. "No começo de nossas reuniões, ele era desconfiado e pouco falava. Com o passar do tempo, passou a se expressar regularmente e hoje é uma liderança atuante", recorda. Outro exemplo de morador que recuperou a auto-estima durante o processo é o do 'cadeirante' (deficiente físico que anda com auxílio de uma cadeira de rodas) conhecido como Carlinhos. "Sua mãe relata que antigamente o Carlinhos passava a maior parte do seu tempo em casa, em sua cadeira de rodas, e pouco saía à rua. Com o tempo, ele aprendeu artesanato com Lelei, e hoje é outra liderança ativa na comunidade", recorda emocionada.

Projeto fez surgir lideranças comunitárias e resgatou auto-estima

Em 2003, a bolsa concedida pela FAPERJ esgotou seu prazo de vigência. Durante dois anos, a pesquisa foi mantida de forma precária, apenas com recursos próprios da pesquisadora. Em 2005, mais uma vez graças ao apoio da Fundação através do edital Direitos Humanos e Cidadania, a pesquisa foi retomada. "Na época, retomamos o processo de criação do circuito turístico alternativo com lideranças comunitárias, professores e alunos da Comunidade de Rasa. Em uma visita, com a presença do Professor Carlos Lessa – que desenvolve um trabalho de turismo ecológico no município de Ilha Grande –, o artesão Lelei realizou uma exposição de vários artistas locais num campo embaixo de árvores. Após esta iniciativa, em um processo de autogestão, surgiu a idéia de criarmos um Centro Cultural para comercialização dos produtos da Rasa, que se tornou ponto de partida do circuito turístico na região. ", explica.

Em 2006, a equipe de trabalho coordenada pela psicóloga fez vários intercâmbios com universidades estrangeiras para apresentar a pesquisa. "Mostramos nosso trabalho na Universidade de Paris VIII e na Universidade de Toulouse, ambas na França. No momento, apresentamos um seminário que teve como desdobramento um vídeo em que professores da universidade de lá falavam sobre a importância de nossa pesquisa. Juntando as duas fases do nosso trabalho, temos três vídeos já editados: um da primeira fase, em que os moradores falam sobre a comunidade; o segundo realizado e editado por alunos da UVA; e um terceiro desenvolvido a partir das apresentações nas universidades francesas, com depoimentos de especialistas presentes aos eventos. Mas ainda temos material inédito que juntam as diferentes fases. São mais de quarenta vídeos não editados sobre o projeto, além de uma série de fotos e slides sobre a comunidade", explica.

Atualmente, a equipe coordenada pela psicóloga está, junto com lideranças comunitárias, artesãos e produtores rurais, tentando junto à prefeitura de Búzios a doação de um terreno para a implantação do centro cultural na região da Rasa. "Ele funcionará não apenas como ponto de partida para o turismo na comunidade, mas também, como centro de memória e interação da população de lá. No local, serão vendidos pratos típicos da cultura local como o café coado no caldo de cana e o artesanato típico, produzido com fibras de banana".

Carmen Rodrigues lembra que objetivo final da pesquisa é que os próprios moradores, em auto-gestão, tomem as rédeas da criação do centro cultural. Segundo ela, esta é a razão porque o processo por vezes é demorado. "Não é válido para nós que empresários ou a própria iniciativa privada da cidade de Búzios crie este local, pois conseguir financiamento desta forma seria fácil. Os moradores da Rasa devem tomar consciência de sua força e de sua riqueza histórica e cultural para desenvolver este espaço. Afinal, além do resgate da memória cultural e histórica, auto-estima e cidadania da população local, minha pesquisa se propõe a fazer com que o associativismo desenvolvido pelos moradores crie novas formas de geração de renda", conclui.

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