Mônica Maia
Divulgação/Uenf |
Wilmar Dias da Silva lidera pesquisas em |
Ele também recebeu auxílio por meio do projeto de cooperação internacional que o governo brasileiro inaugurou há dois anos - o Programa ProÁfrica -, do CNPq e do Instituto Butantan: "Fiz proposta para produzir anticorpos em anti-soro para uso humano e eqüino. Imunizamos galinhas com venenos de serpentes brasileiras. Elas produzem os anticorpos (antivenenos) concentrados na gema, que conseguimos recuperar em um processo simples e podem ser usados em animais de interesse econômico. Temos também anticorpos produzidos em cavalos para uso em humanos. Esses anticorpos estão prontos para serem doados ao governo de Moçambique," anuncia.
Um dos grandes méritos da empreitada do professor Wilmar Dias da Silva se deve ao fato de que Moçambique não dispõe de meios para produção de anti-soros específicos, e os produzidos em laboratórios privados são caros. Além disso, as nações africanas não têm especialistas no desenvolvimento de processos de produção e controle de qualidade de imunobiológicos. "A FAPERJ foi e tem sido importantíssima no desenvolvimento deste e de outros projetos que coordeno: desenvolvimento de processos de produção de imunobiológicos, inflamação e caracterização de fatores de virulência de Escherichia coli enteropatogênicas", diz o cientista.
O primeiro objetivo do projeto é a produção de anti-soros para serem doados durante dois anos para África. O segundo é treinar pesquisadores de países africanos, incluindo Moçambique, para produzir esse soro. "Já treinamos três pesquisadores aqui na Uenf, e receberemos o quarto no final de agosto. Nossa terceira meta é organizar um laboratório para produzir esses anticorpos na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo. A quarta, levar em outubro uma equipe de médicos daqui para ensinar como usar os anticorpos e tratar as vítimas", informa o imunologista.
Um ataque científico às serpentes africanas
O professor lembra que a fauna africana tem mais ou menos 50 espécies de cobras. As mais importantes pertencem a dois gêneros: bitis e naja. "A bitis tem três espécies. A mais importante é a bitis arietans existente em toda a região seca sub-saariana da África, responsável por 80% dos acidentes. É uma serpente de porte, que quando adulta atinge 1,5 a 2 metros de comprimento. Tem um dente curvo e longo que injeta profundamente na presa, em quantidade de 100 a 200 miligramas. É uma quantidade enorme de veneno, rico em toxinas, uma delas causa hemorragias", diz o cientista.
Ele ressalta que o mesmo veneno tem três toxinas - hemorrágica, cardiotóxica, e outra que deixa o sangue incoagulável e mata. "Só existe uma forma de impedir isso: dando o anticorpo; não há outra. Essa cobra, além de ser encontrada nas áreas de savanas, é peridomiciliar, com habitat próximo às moradias. Ela se esconde com tanta habilidade que as vítimas não conseguem percebê-la apesar do tamanho. A outra é a naja, a famosa cobra dos encantadores de serpentes", diz o professor.
Encontrada na Ásia e na África, a naja é uma serpente do tipo cuspideira, que tanto atira o veneno em cima da vítima quanto morde. O professor frisa que sua toxina é essencialmente neurotóxica. "Quando pica, desencadeia problemas respiratórios, e a vítima perde a visão, desmaia e morre por asfixia", esclarece. Ele acrescenta que o anti-soro contra a naja é produzido com a mesma técnica usada para o antiveneno contra a espécie bitis. Na terça-feira, dia 7 de agosto, o pesquisador recebeu comunicado do Instituto Butantan – centro de pesquisa biomédica vinculado à Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo – avisando que os anticorpos serão colocados em frascos para ser exportados.
Os resultados do intercâmbio científico e tecnológico
Modesto, esse craque da imunologia diz que suas conquistas têm pouco valor científico e mais resultado tecnológico. "O importante é o aspecto da colaboração com um continente que conta com um sistema de saúde precaríssimo. E o aspecto interessante é que estamos dando o soro e ensinando como fazer", analisa. Wilmar Dias da Silva já esteve duas vezes em Maputo e voltará em setembro para rever a equipe que mantém em Moçambique. "A colaboração da Uenf é com o treinamento e formação de pesquisadores", diz. Ele está produzindo dois trabalhos para enviar ao American Journal of Medicine Hygien, e outro para a revista especializada Toxicon.
Além de tratamento imediato das vítimas de picadas de cobras e formar especialistas em produção de imunobiológicos, outras metas do programa são a implantação de um serpentário e um laboratório básico de produção de antivenenos em Moçambique, atrair estudantes para áreas importantes da biomedicina, como imunoquímica e toxicologia, e contribuir para o desenvolvimento científico-tecnológico daquele país.
"A Uenf contribui diretamente no desenvolvimento dos processos de produção dos anticorpos antivenenos e no treinamento de pesquisadores africanos nos métodos de produção desses imunobiológicos. Vai participar no curso de Biomedicina que o professor Wanderley de Souza e sua equipe da UFRJ estão implantando na Universidade Eduardo Mondlane, com duas disciplinas nas áreas de Imunobiologia e Desenvolvimento de Processos de Produção Imunobiológicos", anuncia o professor da universidade de Campos dos Goytacazes.
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