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Publicado em: 12/07/2007
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Leguminosas podem ser empregadas na recuperação de solos

Vilma Homero

 Embrapa

 
 Em pastagens, árvores aumentam a produção
 do capim e servem de abrigo para o gado
 
Em apenas 22 meses, o solo degradado por anos de exploração de bauxita, em Porto Trombetas, no Pará, foi inteiramente recuperado com o plantio de árvores de espécies de leguminosas. O processo teria levado dezenas de anos caso fosse deixado à ação da própria natureza. Outra experiência igualmente bem-sucedida foi a recuperação de uma voçoroca na região de Pinheiral, no estado do Rio de Janeiro, onde o plantio de leguminosas noduladas e micorrizadas foi associada ao reordenamento de escoamento das águas. Nos dois casos, trata-se de projeto do pesquisador Avílio Antônio Franco, da Embrapa Agrobiologia. Em "Sistemas agroflorestais como alternativa de modelo de produção na Mata Atlântica", ele também propõe a formação de corredores de ligação entre fragmentos florestais de Mata Atlântica para proteção de seu bioma. A importância desse tipo de conexão já foi reconhecida pelo governo do estado, que o considerou prioritário junto aos agricultores fluminenses.

Para o pesquisador, o primeiro passo do projeto – apoiado pelo edital Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ –, foi o levantamento das espécies de árvores cujas raízes têm capacidade de promover simbiose com bactérias que absorvem nitrogênio do ar, transformando-o em aminoácidos. "Nessa simbiose, as bactérias conseguem incorporar nitrogênio e carbono e colonizar substratos destituídos de material orgânico. O nitrogênio assim obtido pode substituir a adubação química, que é um recurso bem mais caro para a recuperação de solos", explica.

Bactérias e leguminosas saem ganhando: as árvores recebem nutrientes, o que acelera seu crescimento. Como passam a servir de poleiro para aves e proteção aos pequenos animais, o solo à volta aumenta a população de macro e microorganismos, atraídos pelas constantes injeções de matéria orgânica de alto valor nutritivo, formada por folhas e outras partes das plantas. A fixação das raízes e a presença desses microrganismos também aumenta a capacidade de infiltração de água no solo. Aos poucos, tudo isso melhora a qualidade da terra até então arrasada por cultivos sucessivos, pela atividade humana ou pela ação da própia natureza.

"Em Porto Trombetas, região degradada por anos de mineração de bauxita, em 22 meses a área já produzia 9 toneladas de biomassa (plantas). A idéia é manter um sistema em que essas árvores sejam associadas ao cultivo comercial, evitando-se a degradação contínua da capacidade do solo e reduzindo o potencial de poluição. Assim, evita-se também o uso de fertilizantes e a dimuinição do CO2 da atmosfera", explica. E continua: "Além disso, as árvores têm custo de manutenção mais baixo que as espécies herbáceas porque não há necessidade de replantá-las."

As leguminosas podem ainda gerar produtos que representam retorno econômico ao investimento, como lenha, madeira para postes e outros usos, frutos, mel, entre outros. Outro emprego para elas é nas pastagens, onde melhoram e aumentam a produtividade do capim que alimenta o gado, reduzindo a queda de produção durante o período de inverno. "Além disso, servem de abrigo e sombra para o descanso dos bois", diz o pesquisador.

Uma barreira física para reduzir a erosão e prevenir voçorocas

 Embrapa
 
 Reduzindo a velocidade de água das chuvas, as
árvores ajudam a evitar, e a recuperar, voçorocas
O plantio dessas árvores também serve para recuperar voçorocas, que em geral resultam do mau uso do solo. "Com a retirada excessiva da vegetação, o solo fica exposto à erosão, especialmente à força da água das chuvas, que termina escavando enormes buracos naquela área. É o que vem acontecendo com frequência em Minas Gerais e Rio de Janeiro. Sem nenhuma intervenção, quatro eventos de chuva forte – representando aproximadamente a metade das chuvas de verão no ano provocaram a retirada de mais de 100 toneladas por hectare de terra", explica o pesquisador. Neste caso, as árvores formam barreiras físicas em áreas que reduzem a velocidade da água das chuvas. Com essa proteção, o volume de terra escavado pode cair a zero", explica. Foi exatamente o que aconteceu na região fluminense de Pinheiral, onde a equipe de Avílio tem trabalhado com enorme sucesso.

Combinadas a exemplares da flora nativa, as árvores leguminosas também podem ser usadas na formação de corredores que façam ligação entre fragmentos de Mata Atlântica. "Hoje restam 7% de Mata atlântica no país, fragmentos que não são de áreas contínuas. A interligação entre eles permite o fluxo genético de plantas e animais. O trânsito de animais permite a dispersão de espécies vegetais e fluxo genético entre os fragmentos florestais existentes. Assim, não só evitamos os efeitos da erosão como promovemos a estabilidade genética", fala o pesquisador.

Segundo o professor Avílio, o desafio do método é sua aplicabilidade econômica. Testado em áreas degradadas entre fragmentos desse tipo, em Seropédica, interior fluminense,  associaram-se plantas nativas, árvores leguminosas de valor comercial e culturas variadas com retorno no mercado, como a banana e o abacaxi. O projeto tem tido ótimos resultados, com capivaras, quatis e macacos voltando a ser vistos nessas regiões. O maior problema atual é evitar a caça dos animais – quatis, capivaras e outros bichos – que estão aparecendo na área.

Infelizmente, ainda falta o retorno econômico. A um custo aproximado de R$ 15 mil por hectare para implantação do sistema e um retorno de 60%, trata-se de um valor alto para pequenos produtores. Para melhorar o retorno comercial, associou-se a produção de produtos orgânicos, que tem maior valor agregado. Mas ainda será preciso buscar parcerias para dividir esse ônus e conscientizar a sociedade. Afinal, é ela que terá todos os benefícios, seja com mais água e de melhor qualidade, menor poluição do ar e uma maior possibilidade de consumo de produtos orgânicos, seja por usufruir da paisagem do entorno, ganhar, enfim, melhor qualidade de vida. É preciso nos conscientizarmos de que, se queremos qualidade ambiental, de uma forma ou de outra precisamos arcar com os custos", finaliza.

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